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A nova ordem do setor automotivo pós Covid-19

Publicado em 22/10/2020

A eletrificação dos veículos
não ficou imune à pandemia

Os impactos da covid-19 nos veículos elétricos

Todo ano tem momentos decisivos, mas 2020 já teve tantas mudanças de paradigma que praticamente todas as perspectivas de mercado anteriores precisaram ser reavaliadas. A Covid-19 levou todas as empresas a um ato de equilíbrio: por um lado, precisam gerenciar os efeitos imediatos da crise atual e, por outro, devem construir resiliência para os próximos anos. Como resultado, notamos que muitos, incluindo empresas e entidades em prol da sociedade, clamam por uma visão mais clara de futuro para formulação de estratégias de recuperação.

Várias mudanças de mercado induzidas pela pandemia podem ter um impacto negativo no futuro da propulsão puramente elétrica. Uma das primeiras consequências foi a queda dos preços globais do petróleo bruto. Nesse ano, o barril chegou à mínima histórica nos Estados Unidos – pela primeira vez vendedores pagaram aos compradores para aliviar estoques. Os baixos preços na bomba reduzem a viabilidade econômica da adoção de veículos elétricos (VE) vis-à-vis veículos de combustão, especialmente em países com incentivos fiscais limitados.

Outro aspecto negativo para a adoção de VEs vem das interrupções nas cadeias de fornecimento. A China é o maior fornecedor de componentes para a fabricação desse tipo de automóvel. Cadeias de suprimentos interrompidas devido ao lockdown estão tendo um impacto negativo de curto prazo sobre os fabricantes de VEs, causando atrasos em projetos e aumento nos preços das baterias.

Além disso, o aumento das tensões comerciais também pode pesar no roteiro de redução de custo de VE a médio e longo prazo e postergar a adoção em massa. Esse risco pode se atenuar mais e mais se países se concentrarem em realocar a produção de componentes-chave, como baterias, e estabelecer barreiras comerciais para garantir a localização da produção. Em tal cenário, a trajetória para a transição dependerá da capacidade dos países em desenvolver uma cadeia de abastecimento local dentro do prazo.

Empresas de serviços, governos e grandes corporações são importantes “early adopters” dos VEs. No entanto, os bloqueios impostos e normas de distanciamento social impactaram negativamente os fluxos de caixa para a maioria desses provedores. Estresse financeiro, falências e realocação de gastos podem atrasar potencialmente a trajetória de transição de VE para os proprietários de frotas existentes.

A viabilidade econômica dos VEs, em termos de custo de propriedade, permanece inalterada na perspectiva do consumidor – preços altos em comparação aos veículos com sistemas de propulsão tradicional. Para economias emergentes lidando com os enormes custos econômicos e de saúde da pandemia, há pouco espaço fiscal para anunciar novos e generosos incentivos aos VEs – semelhantes aos anunciados nos mercados europeus.

Mesmo que esses desafios pareçam assustadores, eles podem esconder oportunidades. Os baixos preços do petróleo podem impulsionar a inovação em baterias para reduzir ainda mais os custos. Além disso, barreiras comerciais bem planejadas podem tornar as cadeias de suprimentos mais resilientes no longo prazo. Por outro lado, oportunidades de utilização de biocombustíveis em híbridos também são sustentáveis e não devem ser descartadas.

Por fim, a sociedade parece aproveitar a pausa forçada para fazer um exame de consciência, reavaliando a forma como interagimos uns com os outros e com o ecossistema natural. “Propósito” vem sendo mais ressaltado ao invés de lucro a qualquer custo como o principal motor da humanidade. O acordo verde da Europa sairá mais forte desta crise, com governos despejando bilhões de euros em um plano de resgate verde para a economia em dificuldades. Os veículos elétricos serão beneficiados, assim como as infraestruturas de carregamento de VEs. Com tanto ainda a fazer nesta matéria, não faltarão oportunidades.

É importante ressaltar que, como vem sendo dito nos artigos anteriores, a adoção das novas tecnologias deve ocorrer em função de políticas públicas, comportamento social e perfil de consumo, além dos ciclos de uso e carga. Mas, o regulatório global precisa imediatamente passar a avaliar as alternativas de propulsão no ciclo completo de vida do veículo, pois somente assim as comparações entre alternativas serão coerentes e em linha para que a evolução do automóvel se alinhe à mobilidade sustentável. Veículo com emissão zero não existe e, a princípio, não existirá.

O Brasil dispõe de grandes ativos tecnológicos, como o etanol e o veículo flex. Eles oferecem uma rota local mais descomplicada e uma grande vantagem competitiva como solução de curto, médio e longo prazo para a mobilidade eficiente e renovável. As tecnologias estão disponíveis, são capazes de atender aos desafios legislativos com competitividade econômica e dependem de decisões assertivas em incentivos e investimentos para manter o consumidor abastecido com as melhores opções em relação a custo e benefício.

Nenhuma solução poderá ser buscada sem o objetivo de se alinhar o ambiental, o social e o econômico sob o risco de o futuro da mobilidade e, por consequência, o meio ambiente serem negativamente impactados.

Murilo Briganti
Bright Consulting

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