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Publicado em 24/02/2022

AGORA SÃO OS PREÇOS E OS JUROS QUE TRAVAM O MERCADO

A elevação do custo e meios de aquisição começam a se fazer sentir

Por Cassio Pagliarini | Chief Strategy Officer

Este início de 2022 tem se mostrado preocupante. O volume de vendas de automóveis e comerciais leves em janeiro resultou 27% menor do que o valor registrado 12 meses antes, em janeiro de 2021. Os números de fevereiro também se apresentam desanimadores, indicando uma perspectiva sombria para o ano cheio.

Até dezembro, creditava-se a baixa venda à falta de componentes, principalmente semicondutores. Mas, o estoque da indústria veio crescendo a partir de setembro: enquanto ao final de agosto de 2021, o estoque de veículos nas fábricas e concessionárias não chegava a 80 mil unidades, no final de janeiro, 114 mil veículos estavam disponíveis para comercialização. Determinados modelos de demanda mais aquecida ainda têm versões em menor disponibilidade, mas isso vai se resolver em curto prazo.

O volume baixo de emplacamentos parece encontrar uma explicação mais pela falta de demanda do que na falta de oferta. Diversos artigos da Bright Consulting já vislumbravam esse comportamento e trazemos agora mais informações relevantes. A tabela abaixo mostra o preço médio ponderado – ticket médio – do mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves a partir de 2017.

É grande o aumento no ticket médio em 2020 e 2021, com 8,8 e 17,0% de elevação dos preços deflacionados respectivamente. Uma parcela fundamental nesse aumento foi o maior mix de produtos mais caros como os SUVs, além da pura elevação dos preços por força de inflação, câmbio e commodities. Comparando os preços médios de janeiro e dezembro (última coluna), a surpresa é ainda maior, com uma variação de 3,6%, explicada pelo efeito de vendas de fim de ano com mix menos rico, provavelmente para locadoras. Só como referência, o mix de SUVs nas vendas totais de autos e leves bateu em 40% em janeiro versus 36% em dezembro. Vendas diretas em dezembro foram 46,5% do total, caindo para 40,7% em janeiro e 37,7% em fevereiro até agora.

Observando separadamente o segmento de SUVs, verificamos que o ticket médio aumentou menos por aqui em 2021: 11,9% contra 17,0%, ambos deflacionados para níveis de fevereiro de 2022:

No segmento de hatchbacks, no qual estão os veículos de entrada, o aumento foi ainda inferior: 7,3% em 2021. A análise das três tabelas confirma que uma parte considerável da elevação no ticket médio total ocorreu pela migração de clientes, com o aumento da presença dos veículos SUV. Também consequência direta do aumento do ticket médio é a redução do volume total, com mais pessoas adquirindo veículos seminovos.

Olhando por qualquer perspectiva, o preço médio negociado subiu muito, mas não foi o único argumento na direção de reduzir a demanda: subiu também a taxa de juros, comandada pela elevação da SELIC. Enquanto era possível financiar um veículo com juros de CDC ao redor de 18,6% em meados de 2021, a taxa média não subsidiada elevou-se acima de 27% em janeiro, o que representa um entrave a mais no processo de compra – segundo a ANFAVEA, é uma das maiores taxas de juro real do mundo. Endividamento familiar elevado, limitada confiança do consumidor, número de desempregados ainda elevado, inflação de alimentos persistente por alta demanda internacional e problemas de produção e uma onda volumosa de contaminações pela variante Ômicron, são fatores que levam o consumidor a refrear o seu desejo de compra, até porque parte dessas compras foram antecipadas para 2020 e 2021, quando viagens, cursos e visitas aos restaurantes badalados ficaram restritas. Tudo isso sem falar da disputa política que se aproxima.

O panorama atual não traz muitos alentos, pois o peso de janeiro e fevereiro no volume do ano é bem estudado pela sazonalidade – seria necessário acontecer uma profunda reviravolta positiva na economia e PIB para que o volume de 2022 ultrapasse 2 milhões com alguma folga. A grande possibilidade é que andemos de lado, conforme foram os dois últimos anos.

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