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Publicado em 25/08/2021

As novas picapes médias do mercado brasileiro

Lançamentos inovadores conquistam clientes de SUV

Este artigo marca a minha primeira participação na Newsletter Bright Consulting, como consultor de design automotivo. É um prazer participar de um momento importante na construção da nova mobilidade brasileira.

O mercado nacional, como o norte-americano, sempre gostou muito de picapes. Desde a criação do segmento pela Ford com seu “delivery car”, em 1905, a disponibilidade deste bodystyle sempre encantou, não só pela versatilidade, mas também pelo estilo de vida. Claro, a segunda premissa é algo bem mais recente….

No Brasil, começamos por picapes seguindo o modelo yankee. Grandes, potentes e com muita capacidade de carga e, transportando o condutor e 1 ou 2 passageiros.

Isso começou a mudar no final dos anos 70 quando a Fiat lançou sua picape baseada no modelo 147. Apelidada de “saboneteira”, era pequena, com o mesmo comprimento do irmão e despertou um público que procurava algo menor e mais barato que as fullsize disponíveis na época da Ford, Chevrolet e Dodge.

Não demorou muito, uma versão com caçamba mais longa foi apresentada. E a concorrência, percebendo o filão, apresentou seus próprios modelos: Ford Pampa, Chevrolet Chevy e Volkswagen Saveiro. Durante toda a década de 80 e princípio dos anos 90, o consumidor podia então escolher entre as picapes pequenas, derivadas de carros de passeio, e as fullsize, montadas sobre chassis.

Em 1995, percebendo um potencial nicho entre estes modelos, a GM apresentou sua média S10, fabricada no Brasil, e a Ford trouxe a Ranger, importada dos Estados Unidos. Ambas eram também montadas sobre chassis, mas em tamanho e preço ficavam num meio termo. Tinham, diferente de suas irmãs maiores, um apelo mais esportivo, apenas motorização a gasolina e venderam bastante para pessoas que procuravam o mencionado estilo de vida. A caçamba era quase um adereço e pouco usada para carga, efetivamente.

Avançando mais 20 anos, o mercado mudou completamente. As fullsize ficaram muito caras e saíram do mercado. Hoje, apenas a Stellantis oferece a RAM 1500 como importada, um veículo para clientes de maior poder aquisitivo, como fazendeiros, “agroboys” e algum uso para trabalho nestas regiões. Colaborou para o encolhimento do segmento o fato dos fabricantes de caminhões lançarem seus modelos urbanos (VUC), substituindo as picapes fullsize no trabalho pesado, até com maior eficiência, uma vez que tem cabine tipo “cara chata” e maior aproveitamento da área de carga.

As antes “médias” ganharam versões cabine dupla e cresceram bastante, ficando em comprimento (mas não largura) similares às antigas irmãs maiores. Apesar de alguns ainda insistirem em chamá-las de “médias”, como nos Estados Unidos, o fato é que são grandes para nosso mercado. Como exemplo, a Ranger cabine simples cresceu dos 4.674mm em 1995 para 5.354mm em 2021!

As picapes pequenas, derivadas de modelos de passeio, seguiram, porém com um novo arranjo e novos players. Um novo gap surgiu então entre elas.

Alguns fabricantes perceberam as mudanças e lançaram suas “novas picapes médias”, como a Renault Oroch e a Fiat Toro. As grandes diferenças para as grandes são o fato de serem monobloco e oferecidas apenas em versão cabine dupla. A Oroch é derivada da SUV Duster (que por sua vez tem sua raiz no Sandero), e a Toro, apesar de ser vendida como um modelo Fiat, tem no seu DNA muito da Jeep, com a qual compartilha a plataforma. Esta segunda oferece uma versão Diesel, usando uma motorização “caseira”, dividida com a Jeep.

Na esteira do sucesso da Toro, a Fiat remodelou a Strada como uma mini-Toro, fugindo ao conceito de picape para o trabalho e se aproximando dos SUVs com sua novíssima versão 4 portas. O sucesso destes modelos se explica também pela oferta do mesmo espaço e conforto para passageiros de um SUV, com a flexibilidade de uma caçamba aberta, maior e mais versátil. O quase domínio da Stellantis no segmento de picapes pequenas fez os olhos de outras montadoras se voltaram para esse mercado de médias que simboliza status e estilo de vida.

Às vésperas de receber um facelift similar ao Duster, a Renault tem focado sua picape Oroch para o trabalho. Deverá atualizá-la e deixá-la muito mais atraente para o cliente desse segmento. Pelo mesmo caminho, a GM deve lançar em breve sua nova picape Montana, agora como “média” e baseada em seu exitoso SUV Tracker. Trará um porte próximo ao da Toro e muita tecnologia embarcada, além de estilo moderno e competitivo.

A Volkswagen, por diversas vezes, ventilou sua proposta de picape média. Fala-se na Tarok para 2023. Outra possibilidade é uma nova Saveiro baseada no novo Gol, este o SUV de entrada da marca alemã. Será que a VW vem com 2 produtos nesse segmento ou trata-se do mesmo produto?

A Ford já anunciou a venda no Brasil da sua picape “compacta” Maverick. Lá nos Estados Unidos, ela tem uma versão híbrida, que a tornaria muito interessante aqui. Seu design mais quadrado foi claramente inspirado na F150. A conferir versões e equipamentos.

Outros players que podem entrar na briga são a Toyota e a Hyundai, esta última com a Santa Cruz, recentemente introduzida no mercado americano. Mesmo a novata CAOA Chery pode estar desenvolvendo alternativa neste sentido.

Fato importante é que o mercado de picapes pequenas derivadas de automóveis traz pouco retorno financeiro às montadoras, pois são orientadas ao trabalho com nível mínimo de equipamentos. As “grandes” exigem um investimento maior, mais capacidade específica de produção na configuração chassi + cabine e refinamentos técnicos mais audaciosos: capacidade de carga, oferta de 4X4, equipamentos mais sofisticados. E o segmento já está bem pulverizado.

Já as novas médias trazem porte, tecnologia, conforto e estilo, além da posição de comando mais alta – “king of the road” – muito valorizada nas cidades. Mesmo não sendo capazes de desempenhar como suas irmãs maiores, permitem ao usuário arriscar um passeio off-road mais leve com segurança. Com a eventual oferta de diesel, todo este pacote vem a um valor de posse muito menor. Tudo isso explica o seu sucesso. Vamos aguardar agora um exclusivo modelo híbrido.

João Marcos Ramos
Bright Consulting

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