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Publicado em 29/09/2022

EVOLUÇÃO DE VOLUMES E ROTAS TECNOLÓGICAS

A indústria automobilística passa por um novo período de expansão no qual a definição
das barreiras e de incentivos terá importância fundamental

Por Cassio Pagliarini | Chief Strategy Officer

Uma crise como a detonada pela pandemia seria difícil de imaginar em 2019: depois de profunda recessão até 2016, o segmento passou por 3 anos de recuperação, com crescimento médio de quase 10% ao ano. Em particular, o ano de 2019 apresentou grande estabilidade de produtos e preços, após a recuperação de margens e volumes em 2017 e 2018. Com 2,6 milhões de automóveis e comerciais leves comercializados, o ano de 2019 era um bom começo para se chegar novamente aos mesmos 3,6 milhões em 2023 ou 2024.

E veio a pandemia, com lockdown anunciado em 20 de março de 2020, reduzindo os volumes de abril e de maio a apenas 25% dos mesmos meses em 2019. Pelo cerceamento de viagens, cursos de formação e aperfeiçoamento, e lazer em geral, aqueles com os empregos preservados se viram com um caixa extraordinário, que foi utilizado para reformar a casa ou comprar um carro novo. Isso fez com que a recuperação do setor viesse rapidamente e dezembro de 2020 registrou vendas apenas 5% abaixo de dezembro de 2019. Volume do ano: 1,95 milhão, com 1,1% de eletrificados.

Porém, o pior ainda estava por vir. A crise sanitária se agravou no primeiro semestre de 2021, complicada pela inflação de commodities, desarranjo logístico, escassez de chips, aumento na taxa de juros e diminuição do poder médio de compra das famílias. Tudo isso desaguou num comportamento anormal da indústria, com volumes no segundo semestre equivalentes a 49% do número anual – normalmente o segundo semestre tem peso de 55%. O ano fechou com 1,98 milhão e 1,8% de eletrificados.

Carregando problemas semelhantes ao fim de 2021, começamos 2022 tão lentamente que era possível vislumbrar até uma redução dos níveis de vendas projetados para o ano. Passando a régua, o ticket médio aumentou de 89 mil reais em 2019 para 131 mil em agosto de 2022.  Uma redução de 35% nas alíquotas de IPI associada à retomada de compras pelas locadoras permitiram uma recuperação no ritmo de vendas e deveremos fechar o ano no mesmo patamar, com 1,97 milhão de veículos e 2,5% de eletrificados, divididos em 1,7% de híbridos; 0,4% para híbridos plug-in e 0,4% para elétricos a bateria. A frota de eletrificados chega a 130 mil unidades ou 0,3% dos veículos que circulam no país, com apenas 12 mil BEV.

Quais as perspectivas para os próximos anos?

A Bright Consulting projeta 2030 com 3,06 milhões de emplacamentos, sendo que 30% desse volume será eletrificado: 5% BEV, 2% Plug-in e 23% híbridos. A frota de eletrificados chegará a 3,49 milhões de veículos, ou 6% da frota total brasileira. Dessa frota, 700 mil veículos serão plugáveis para abastecimento.

Esses valores mostram como a corrida brasileira pela eletrificação segue atrás dos países da Europa, EUA e China, que terão mais da metade de suas vendas entre eletrificados em 2030. A explicação para essa diferença continua sendo o preço das baterias e investimento para a estrutura de carregamento. Em um país onde ainda são insuficientes os investimentos em saúde, educação e alimentação – não faz sentido conceder recursos a compradores de veículos caros enquanto nossas necessidades básicas não são atendidas. Nossa solução precisa ser mais criativa!

Os caminhos para conduzir a indústria brasileira a uma mobilidade sustentável devem contar com 3 pilares:

      1. Uma nova estrutura fiscal que privilegie veículos mais eficientes, quiçá com um benefício suplementar para os veículos mais acessíveis de forma a fomentar seu volume
      2. Uma mensuração de emissões de CO2 no ciclo poço-a-roda que permite capitalizar os benefícios da ampla estrutura disponível no Brasil para produção e distribuição de biocombustíveis, tendo o etanol na vanguarda
      3. Incentivo ao desenvolvimento e utilização de soluções tecnológicas de ponta que permitam o uso de células de combustível associadas a reformadores de H2.

Exemplificando o que é possível obter e seguindo a tendência de desenvolvimento, nossos veículos serão capazes de emitir apenas 100g CO2 por quilômetro dentro do atual mix gasolina / etanol enquanto a Europa se esforça para chegar a 95g com ampla presença de elétricos. Com maior presença de etanol, os números ficam mais favoráveis para o Brasil.

Aplicações comerciais como transporte de passageiros e entrega urbana, onde as quilometragens anuais são altas, já alcançam payback para a rota tecnológica BEV. Isso é demonstrado pela crescente aceitação de vans elétricas sendo emplacadas por vários fabricantes. A produção de caminhões elétricos não é suficiente para atender a demanda. Já para veículos particulares, os desafios são maiores, o que faz prever uma grande parcela de mild-hybrid, menos caros, nas vendas. No seminário ABX22, da Automotive Business, Paulo Cardamone, CEO da Bright Consulting, disse que a mobilidade sustentável no Brasil será eclética, ao invés de elétrica.

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