Publicado em 23/06/2022

EVOLUÇÃO DOS SEGMENTOS NO MERCADO BRASILEIRO

Crescimento de SUVs e picapes tem base na demanda do consumidor e em parâmetros econômicos

Por Cassio Pagliarini | Chief Strategy Officer

O crescimento dos SUVs tem sido consistente no mercado brasileiro e indica a mudança de comportamento do cliente seguindo a demanda mundial por esse tipo de veículo e pela capacidade que um veículo de maior valor agregado tem de absorver mais custos e preços. Mas, essa não é a única mudança.

O monitoramento da Bright Consulting mostra a evolução dos segmentos desde antes da pandemia, que fez acelerar a mudança de mix em favor de SUVs e picapes, preferidos pelos clientes individuais em tempos de lockdown. Perdeu o segmento de hatchbacks onde estão os veículos de entrada e onde o menor poder aquisitivo, combinado com o forte aumento de preços, se fez mais sentir – são veículos muito pressionados pelos requisitos legais de Rota 2030 e Proconve, além da inflação de commodities. Quem deixa de comprar um novo hatchback de entrada não tem saída a não ser migrar para os seminovos ou esticar a posse do seu atual veículo. Curiosamente, o segmento de sedans se mantém estável, provavelmente pela disponibilidade do Toyota Corolla como o único híbrido flex e de valor mais acessível.

O segmento de picapes também aumentou, refletindo a invasão de modelos cabine dupla no território dos SUVs. Não fosse esse movimento, os SUVs teriam uma fatia ainda maior de mercado. De uma parcela de 14,2% em 2019, as picapes pequenas e médias saltarem para 17,6% nas vendas de junho.

Uma parte das motivações para a mudança de mix também está atrelada às vendas diretas e, dentro delas, com as vendas para locadoras. As restrições à circulação acarretaram uma menor compra por parte das locadoras em 2020 e boa parte 2021. A partir de agosto, a limitação de disponibilidade e altos preços contribuíram para esse comportamento, que perdurou até abril deste ano.  A regularização de estoques e novas negociações com as montadoras levaram à elevação da participação de locadoras nos emplacamentos, para atender à demanda de veículos por assinatura e alternativas à compra do veículo pelo cliente. Enquanto até abril, as compras de locadoras respondiam por aproximadamente 21% das vendas, em maio esse percentual ultrapassou 30%, sempre com estimativas da Bright Consulting. O número de junho também vem forte, considerando que os emplacamentos para pessoa jurídica ocorrem com maior peso ao fim do mês. Essas novas compras têm ocorrido com um mix maior de SUVs e picapes, seguindo as tendências do mercado.

O que esperar para os demais meses de 2022? Uma continuidade desses rumos, reforçado pelo próximo lançamento de veículos mais acessíveis com “pegada” SUV e com novas picapes cabine dupla para esses mesmos clientes. Vendas diretas se reduzirão levemente assim que as locadoras tiverem recuperado o nível ótimo de estoque. Indústria de autos e leves ainda abaixo dos 2 milhões de unidades em 2022.