AUTOMOTIVERESTART

A nova ordem do setor automotivo pós Covid-19

Publicado em  10/12/2020

O caminho a seguir

O Brasil e sua indústria automobilística têm uma estrada aberta para se tornar uma das referências globais de mobilidade sustentável.

O ano de 2020 trouxe o maior desafio já enfrentado pela humanidade desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com ameaças à população e à economia de todos os países. Não foi uma nova guerra, não foi um desastre natural, mas um vírus, uma das menores formas de vida, sem inteligência, mas que causou grande choque de intelectos e opiniões por todo o planeta. Ao contrário de produções cinematográficas, não houve uma união global contra o inimigo comum, talvez o maior alerta para os futuros desafios: será necessário agir em benefício da humanidade de forma coordenada, acima de países ou posições políticas.

Os debates sobre o futuro da mobilidade se propagaram pelo planeta como forma de identificar quais novos modelos e modais se ajustariam com a readequação da sociedade e a preservação do meio ambiente. Todo o espectro da atividade foi discutido: logística, planejamento de produtos, produção, formas de comercializar e de servir e, principalmente, o formato tecnológico dos veículos daqui em diante.

O primeiro e mais importante fundamento a ser buscado é o da mobilidade sustentável, que leva em consideração os aspectos ambientais, econômicos e sociais, com intrusão mínima na rotina das pessoas e no balanço dos recursos aplicados.

Como produzir de forma eficiente veículos limpos, preparados para o descarte, e que utilizem recursos naturais com parcimônia – tudo isso mantendo o interesse da população em usá-los. A nova manufatura não aceita desperdícios, é mais flexível, mais ecológica, mas os desafios de sempre continuam. Num momento em que faltam os produtos mais desejados por questões de suprimentos, as fábricas retornam com velocidades diferenciadas à sua cadência de produção, aproveitando para ajustar o número e a diversidade dos colaboradores.

Os fornecedores passam por desafios similares, muito mais sujeitos ao para-e-anda da cadeia e à ameaça do conteúdo importado de alta tecnologia, que continua aumentando – afinal o cliente é rei e ficou mais exigente – porém, com janelas de oportunidades para investimentos locais em sistemas que ampliam o conteúdo tecnológico dos veículos, em função do câmbio sobrevalorizado.

E qual o caminho a seguir para manter a sustentabilidade como pilar estratégico?

Existem aspectos importantes que definirão as decisões do setor daqui para a frente:

  • A visão de que somente a mobilidade sustentável poderá garantir um saldo positivo no futuro para os aspectos ambientais, econômicos e sociais relacionados à indústria automobilística e ao país. Os países desenvolvidos já se definiram pela eletrificação, destino que parece irreversível, mas que pode ser alcançado por caminhos diversos;
  • O papel do governo em pavimentar nossa estrada para o futuro, como agente regulador, e que, embasado em estudos robustos, sinalize quais rotas tecnológicas mais interessam ao país, seja por aproveitar os recursos e competências existentes, seja pela manutenção dos empregos locais, seja pelas oportunidades de exportações ou principalmente para alavancar a competitividade do setor automotivo.

Ambos os aspectos descritos acima devem orientar as decisões e garantir que o país:

  • Continue a evoluir na regulação de segurança, emissões e eficiência energética;
  • Aprimore a visão das alternativas tecnológicas disponíveis para a propulsão de veículos no Brasil, suas vantagens e desvantagens, capitalizando nossos ativos em biocombustíveis;
  • Implemente programas que estanquem a contribuição danosa de veículos antigos e mal conservados em violações de segurança, emissão de poluentes e eficiência energética, nominalmente inspeção e reciclagem;
  • Correlacione nossos objetivos de eficiência energética, segurança e emissão de poluentes aos países mais desenvolvidos, como preparação ao livre comércio e de forma a reduzir riscos e tratamentos não contabilizados de vidas humanas;
  • Utilize recursos gerados pela própria indústria, e que a ela pertencem, para orientar a taxação fiscal de forma a dirigir as novas compras do mercado;
  • Aproveite o mercado global e emergente de créditos de carbono.

Passando ao desenvolvimento dos veículos, deve-se definir qual a rota tecnológica para o futuro do setor automotivo no Brasil. Temos tecnologia desenvolvida por décadas na utilização de biocombustíveis, que podem se mostrar superiores aos conceitos enlatados de eletrificação. No curto prazo, a geração de CO2 da frota brasileira pode despencar rapidamente com o aumento da mistura de etanol na gasolina. É preciso lembrar que o Brasil possui 46% de energia renovável, entre hidráulica, solar, eólica e derivadas de biomassa, com destaque para o etanol. Esse ativo, porém, precisa ser combinado com legislações e programas ambientais e de eficiência energética atualizados e capazes de mostrar a real situação do Brasil em relação ao mundo.

 A eletrificação imediata da frota pode fazer sentido para um continente rico e que corre para substituir uma matriz energética que ainda carrega um alto percentual de fontes fósseis, como o carvão, para a geração de eletricidade. Para o Brasil, no entanto, o carro elétrico ainda não é a melhor alternativa para todas as utilizações.

O Brasil tem muito mais a ganhar se realizar a migração dos motores de combustão interna para a hibridização combinada com etanol até a futura bioeletrificação via célula de combustível. Com certeza, a tração deverá ser elétrica, mas a grande sacada da geração de energia dentro do próprio veículo – sem combustão – não só propiciará a redução de investimentos vultuosos em infraestrutura, como também dará um salto quântico na competitividade futura do Brasil. Nosso país poderá, sim, ser exportador da tecnologia bioelétrica para mercados em desenvolvimento e de baixa renda que continuarão tendo grande participação na venda global de veículos.

As pesadas e caras baterias devem ser limitadas à capacidade de entregar e receber de volta a energia por períodos curtos e que garantam estabilidade e economia à sua utilização. Ganhamos também com a distribuição de combustível e menor investimento estrutural em eletrocalhas. Por fim, ganhamos também com a menor necessidade de subsídios para baterias, que não se sustentam por conta própria.

Nos últimos parágrafos, a necessidade da presença do governo como agente regulador – o maestro de toda a orquestra que envolve a mobilidade — ficou amplamente demonstrada, para decidir as estradas que devemos trilhar. A definição de objetivos transparentes e a estruturação de impostos irá dirigir a indústria automobilística para a posição mais eficiente para o Brasil. Um grande programa de alinhamento entre montadoras, autopeças, produtores de commodities, da inspeção e reciclagem veicular ainda é necessária, e dessa orquestração o governo e a classe política não podem abdicar. Estão incluídas nessa discussão as alternativas de exportação e importação de veículos e as negociações de livre comércio com países que querem os alimentos que produzimos.

Esta nova visão apresentada pelo projeto AUTOMOTIVE RESTART transcendeu os objetivos iniciais de avaliação da nova ordem do setor automotivo pós Covid-19. Como próximos passos, precisa rapidamente ser suportada por estudos robustos sobre as alternativas disponíveis e seus impactos sobre os caminhos a seguir. Será imprescindível uma grande concertação política e regulatória sem a qual o setor automotivo, milhões de brasileiros, o meio ambiente e o futuro de gerações sucumbirão.

O Restart Automotivo necessita de uma nova atitude de todos nós e ele começa agora.

Paulo Cardamone
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