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Publicado em 22/07/2020

O conceito de plataforma automotiva
Como simplificar um desenvolvimento

Recentemente, a Toyota informou que está desenvolvendo um SUV inspirado no Corolla e a Bright Consulting aponta que o Brasil pode receber essa novidade no primeiro trimestre de 2021. Grande parte disso se deve ao fato de já montarem essa plataforma – a TNGA – nas fábricas brasileiras. O que isso significa? Quais as vantagens de se utilizar uma mesma plataforma? Quando essa economia de escala não pode ser aplicada?

Utilizaremos um case bem brasileiro: o lançamento do SUV EcoSport no Brasil em 2003. Este foi um desenvolvimento exclusivo e começou a partir do Ford Fiesta, ambos em curso de serem produzidos na nova fábrica de Camaçari, na Bahia.

O Fiesta já existia na Europa e o modelo brasileiro sofreu apenas ajustes de fabricação mais adequados ao perfil de fornecimento e expectativa de custos para um veículo desse segmento. Já o EcoSport veio do conceito de fazer um SUV genuíno, acessível e flexível – eram essas as palavras de ordem do projeto.

Quais palavras vêm à cabeça quando se pensa em SUV? Naqueles tempos, o conceito desse tipo de veículo ainda não existia por aqui e os planejadores pensaram em fazer um carro com maior altura livre do solo, pessoas sentadas em poltronas com uma postura mais ereta, que consumia menor espaço longitudinal, mas que exigia um teto mais alto. Existiam outras exigências que foram agregadas em sequência, tais como a capacidade de andar em terrenos menos acessíveis, melhor visibilidade e maior proteção. 

Partiu-se da plataforma (assoalho) do Fiesta, posicionando as suspensões de forma que pudessem incorporar rodas e pneus maiores, assim como fazer o assoalho ficar mais distante do chão. Porém, ao olhar o veículo por baixo, tudo era muito parecido com o hatchback, algo que se chama de reutilização e se traduz por economia no desenvolvimento e escala para a produção. Um assoalho comum também permite que os mesmos suportes de carroceria sejam usados na linha de produção, ou que a instalação de motor e conjuntos seja similar. Componentes incapazes de aguentar o tranco da nova aplicação foram reforçados, mas o resto continuou comum.

Os estilistas da Ford desenharam uma nova carroceria à semelhança dos outros SUVs da marca nos EUA – Escape, Explorer, Excursion e Expedition – e adicionaram novas alternativas de motorização: motor 2.0, tração nas quatro rodas e câmbio automático na sequência. A versão com tração nas quatro rodas foi aquela que mais se distanciou da plataforma original, pela necessidade de fixação de um diferencial e suspensões independentes em um assoalho no qual esta alternativa não era prevista.

O conceito foi um sucesso estrondoso e permitiu à Ford anos de crescimento e lucratividade com poucos competidores diretos. Em outras palavras, a utilização da mesma plataforma permitiu à montadora vender um veículo com um preço mais caro, usando muitos componentes desenvolvidos para uma carroceria mais simples.

Um conceito similar foi usado pela Renault ao desenvolver o Duster a partir da plataforma Logan. Neste caso, a padronização é ainda maior, com portas dianteiras e para-brisas compartilhados entre Logan e Sandero, além do assoalho. Na Renault, a reutilização caminhou um estágio à frente, com o lançamento da Duster Oroch. Essa foi a alternativa brasileira ao lançamento da picape Logan, existente na Europa e rejeitada nas clínicas por aqui.

O conceito de plataforma funciona até entre marcas, como nos exemplos da Autolatina, que tinha Logus, Escort, Apolo, Verona e Pointer, todos derivados do Escort europeu. Mais um exemplo aparece entre Jeep Renegade e Fiat Toro, aqui buscando clientes similares com soluções distintas. Aliás, a Fiat Toro levou o conceito da Duster Oroch a outro patamar, ao trazer motor diesel e tração nas quatro rodas, equipamentos já disponíveis no Renegade.

E como se desenha uma plataforma? 

O desenho da plataforma depende da utilização pretendida e dos mercados nos quais será aplicada. Existem 2 conceitos básicos hoje em dia: bottom-up e top-down. Começando pelo top-down, o veículo é desenhado para o mercado mais complexo, sofisticado e exigente, no qual equipamentos e comportamento do veículo têm demandas maiores. À medida que se aplica o veículo em mercados menos exigentes, são removidos equipamentos e substituídos conjuntos de menor performance. Nem sempre é possível alcançar custos competitivos dessa forma e surgiu o conceito bottom-up, no qual se parte de uma plataforma sólida e barata e são acrescentados equipamentos. 

Nenhuma das soluções serve a todas aplicações, mas o conceito bottom-up se solidificou para carros de alto volume no Brasil e nos mercados indiano e mexicano, a ponto de as mesmas soluções estarem, agora, fazendo parte do portfólio de produtos europeus. Por exemplo, o novo Renault Clio compartilha da nova plataforma do Dacia Sandero, uma empresa do mesmo grupo especializada em menores custos de produção.

Os exemplos são inúmeros, em todas as marcas. Poucos produtos podem se dar ao luxo de ter uma plataforma específica e dedicada. Seus clientes pagarão por esse luxo, ou comprarão versões personalizadas de plataformas commodities de baixo custo.

Cassio Pagliarini
Bright Consulting

 

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