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Publicado em 22/12/2021

OS DESAFIOS DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA EM 2022

Debate sobre futuro da mobilidade comandará uma lista de assuntos inadiáveis no próximo ano

Toda pessoa tem uma lista de coisas que deseja ver implementadas no ano que se abre e os executivos da indústria automobilística não são exceção. À primeira vista, pode parecer que o aumento de produção pela resolução das dificuldades logísticas, da falta de semicondutores e outros componentes, figurem na primeira posição, porém esse é um assunto que tem prazo para se resolver. Existe uma oportunidade real para fabricantes de microchips ampliarem seu volume de vendas e várias montadoras, assim como grandes fornecedores, resolveram fazer investimentos para ter linhas exclusivas deste componente. Também buscam fugir da dependência de Taiwan, que detém mais de 60% do volume total de chips produzido no mundo. Ou seja, este problema tático estará resolvido durante 2022 com a maturação dos investimentos realizados.

Resolvido o suprimento de semicondutores, aparecerá um problema estratégico – preço dos veículos – motivado pela pandemia e consequência da valorização de commodities, moeda estrangeira e taxas de juros. Estes três fatores restringem o tamanho da demanda e podemos descobrir, finalmente, que a escassez de semicondutores ajudou montadoras e concessionárias a praticar tabela cheia, com bom lucro unitário. Sem dúvida, este impacto vai afetar de forma diversa as várias empresas: quem lançou produtos que se tornaram desejados poderá lucrar com uma maior disponibilidade. Quem não fez isso poderá amargar queda de volume, quando os queridinhos do mercado puderem atender à demanda.

A verdadeira discussão estratégica para a indústria automobilística brasileira em 2022 acontecerá na escolha e definição dos rumos que devemos seguir para atingir a mobilidade sustentável no país. São muitos temas que compõem o assunto:

      • Cada segmento de mobilidade adotará a rota tecnológica mais apropriada a essa aplicação. Não existe solução única. Por exemplo, o transporte urbano de pessoas e mercadorias terá supremacia de BEV, enquanto o transporte pessoal e familiar deverá se orientar para híbridos flex. Essa adequação entre rota tecnológica e aplicação poderá migrar com a evolução da tecnologia. As soluções de longo prazo começam a ser desenhadas.
      • A utilização de biocombustíveis traz progressos inegáveis na redução da pegada de carbono. Com recursos imensos nessa área, o Brasil terá vantagens ambientais, econômicas e sociais, se desenvolver uma rota tecnológica que utilize plenamente seus recursos. Soluções enlatadas não resolvem.
      • Na segunda quinzena de dezembro, o IBAMA brindou o mercado com a instrução normativa 11278719, que modifica os limites de orgânicos não metano (NMOG) na legislação PROCONVE L8 e que pode inviabilizar o uso de etanol a partir de 2027 em diferentes portfólios de veículos, caso os valores de MIR não sejam revistos. Esta mudança dos limites sobre as referências da legislação L7 carecem de experimentação suplementar e a Bright Consulting recomenda a manutenção dos valores anteriores à normativa até que os novos ensaios confirmem e validem os novos parâmetros e não comprometam o espírito de progressividade da fase L8.
      • A importação de veículos eletrificados serve como medida “stop-gap” para experimentação e aprendizado, mas não proporciona soluções acessíveis para a população em geral. A produção nacional deve ser fomentada para permitir volume de vendas e manutenção de empregos.
      • Pelos seus componentes caros e peculiares, os veículos eletrificados precisarão de uma matriz de suprimentos mais flexível, que permita o início de produção imediato com insumos importados e uma gradual localização de acordo com as competências desenvolvidas por aqui.
      • O custo de baterias representa um grande entrave aos veículos BEV. A perspectiva de redução desse custo encontra-se em cheque devido ao aumento dos preços do minério de lítio. Vários países desenvolvidos rumaram nessa direção por não ter alternativas e pela aparente obviedade da solução – um BEV não libera poluentes ou gases de efeito estufa. Recentes discussões mostram novas oportunidades.
      • As baterias de lítio empregam muita energia em sua fabricação e descarte, assim como implicam num razoável impacto ambiental. O Brasil deve publicar e fazer cumprir legislação de fabricação, reutilização e descarte para gerenciar essas tarefas.
      • Mesmo tendo jazidas de diversos minérios necessários aos veículos eletrificados, pode ser impraticável por motivos econômicos a fabricação local de determinados conjuntos, por exemplo, baterias. O mesmo raciocínio vale para controladores e motores, ora produzidos em gigantescas fábricas com economia de escala. O Brasil deve definir o seu papel nas cadeias de fornecimento.
      • Veículos eletrificados entram com benefícios fiscais que desoneram o imposto de importação para elétricos e híbridos. Esse tratamento favorece a presença de soluções modernas de mobilidade sustentável durante um período de experimentação e aprendizagem, mas deve ser ponderado para não desestimular a fabricação local.
      • A presença de BEV nas nossas estradas implica na disponibilidade de eletrocalhas e postos de carregamento ao longo da via, com significativos investimentos de infraestrutura de carregamento. Como os veículos BEV são caros e concentrados entre premiums e esportivos, fica difícil sugerir investimentos governamentais nessa área.
      • A evolução de segurança e emissões na frota brasileira depende muito mais da retirada de circulação os veículos antigos e obsoletos do que de aplicar normas mais rigorosas aos produtos novos. Já passou da hora de discutir inspeção veicular e descarte de veículos com muita idade.

Nós da Bright Consulting temos absoluta convicção de que 2022 será o ano fundamental na discussão desses conceitos pela sociedade. Também será o ano para decisão das montadoras sobre sua estratégia de investimentos. A definição de metas e rumos pode ser estabelecida tanto pela aplicação da regulação – de cima para baixo – como de baixo para cima – pela seleção e aclamação entre os fabricantes de soluções mais acessíveis para os clientes. Esta última alternativa é profundamente técnica e exigirá o convencimento dos governantes a desenvolver um regulatório de suporte.

As discussões têm acontecido em vários fóruns, com participações cada vez mais ativas e engajadas. Passados dois anos de tremendas dificuldades com a pandemia, com custos, com logística, teremos no próximo ano a possibilidade de olhar o futuro oferecendo soluções que permitam realisticamente evoluir para a mobilidade de baixo carbono.

Feliz e Próspero 2022!

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