ARTIGOS

Publicado em 24/06/2021

Os preços seguem aumentando

A elasticidade de demanda em função do aumento dos preços pode estar represada, mas a resposta virá com o restabelecimento do supply-chain e fim da pandemia

Em fevereiro deste ano, uma das publicações da Bright Consulting discutia a pertinência de se aumentar impostos em um momento tão delicado, no qual os insumos subiram e a demanda estava restrita pela pandemia.

Recapitulando o raciocínio daquele artigo, o país vinha de um reequilíbrio de preços em 2019, recuperados após a crise de 2016. Com a pandemia, veio a inflação de commodities e os preços correram acima da inflação em 2020. Essa diferença passou de 8% nos 12 meses daquele ano.

Olhando para os resultados parciais até maio de 2021, os números são ainda mais fortes, acumulando uma diferença superior em 6 pontos percentuais à inflação do período. Ou seja, em um período de 18 meses, os preços dos veículos superaram por 15 pontos percentuais a inflação.

Pelas regras normais de elasticidade, isso deveria significar uma redução no volume de vendas de 45% a 60% dependendo do segmento, uma vez que salários e rentabilidade de ativos financeiros não chegaram nem perto desses valores. Como explicar, então, a manutenção de volumes próximos a 2019 e a falta de disponibilidade de determinados produtos por falhas na cadeia de suprimentos?

Também no artigo de fevereiro, comentávamos sobre as alternativas de investimento para a compra do automóvel: viagens de férias, cursos de especialização, compra ou reforma de imóvel. As limitações de viagens e cursos continuam, assim como prosseguem reformas e compras imobiliárias. Passando a régua, o cliente tem decidido investir em um novo veículo, principalmente entre os novos lançamentos recheados de tecnologia, os mesmos que encontram dificuldades na produção por conta de semicondutores.

Outro fator fundamental para o aumento do ticket médio tem sido a mudança de mix de segmentos, com os SUVs se equiparando com os hatchbacks acima dos 30% de mercado, enquanto não chegavam a 23% antes da pandemia. As picapes também têm encontrado seu lugar nas garagens dos clientes em ritmo bem maior do que antes, a ponto da nova Fiat Strada ser o veículo mais vendido neste acumulado do ano até maio. Picapes também representam maior ticket médio.

Juntando tudo, o preço médio dos veículos aumentou muito acima da inflação por conta da desvalorização do real, aumentos em commodities e mudança no mix. As vendas se mantêm em níveis razoáveis porque existem menos alternativas para empregar os mesmos recursos em férias e cursos. E os veículos mais desejados estão com disponibilidade restrita por falta de componentes, o que faz os clientes aceitarem pagar os altos preços cobrados, sem descontos. Veículos concorrentes, não tão demandados pelo cliente, encontram espaço através de promoções e ofertas especiais, sustentando o volume das vendas.

O que vai acontecer quando se normalizarem os fornecimentos de componentes e diminuírem as restrições devido à Covid-19? Para os queridinhos do mercado, vida que segue, com vendas normalizadas e oferta das versões mais baratas, agora suprimidas. Para os outros veículos, situação mais difícil, encarando de frente a elasticidade, com necessidade de recuperar competitividade através de promoções, juros subsidiados ou reposicionamento de preços.

 Mesmo assim, o volume da indústria deverá andar de lado por algum tempo: nenhum comércio suporta sem efeitos colaterais um aumento real de 15% nos seus preços.

Cassio Pagliarini
Bright Consulting

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