ARTIGOS

Publicado em 22/12/2021

RETROSPECTIVA 2021 DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA

A indústria automobilística superou grandes desafios neste ano e se prepara para grandes decisões em 2022

Por Cassio Pagliarini | Chief Strategy Officer

No início deste ano, as expectativas para a recuperação da indústria automobilística eram boas, visto o rápido restabelecimento de vendas no fim de 2020. Nossa previsão de janeiro apontava para 2,3 milhões de unidades em 2021, alinhada com um mercado em aquecimento, sem a real magnitude do efeito nas cadeias logísticas que impactaram o mundo e os resultados de vendas do ano. A falta de semicondutores foi a causa dominante para a queda nas vendas – 300 mil unidades deixaram de ser produzidas devido a essa restrição. O número Bright Consulting para as vendas do ano é de 1,96 milhão, quase empatado com os 1,95 milhão de 2020.

Começamos falando de preços. A tabela abaixo mostra que os preços médios do mercado aumentaram mais de 16% este ano. O efeito do aumento dos insumos, do câmbio e das dificuldades logísticas forçou todas as marcas a repassarem significativos aumentos de custos para preservar suas margens num ambiente muito desafiador.

A falta de componentes pode ter sido a justificativa mais importante para a quebra dos números de produção e venda, mas não nos enganemos. O aumento de preços e a elevação das taxas de juros são inibidores ocultos e têm cobrado o seu impacto nas vendas, tanto que o estoque de montadoras e concessionários aumentou de 76 mil unidades, em agosto, para 103 mil, em novembro, sem um aumento significativo nas vendas diárias. A falta de semicondutores tem sido um ótimo argumento para os altos preços praticados, permitindo margens mais robustas para montadoras e concessionários. Porém, margem melhor não substitui produção perdida e os fabricantes ainda lidam com hiatos de fabricação que devem perdurar durante 2022. A recuperação da cadeia de fornecimento será o momento da verdade para preços e volumes: conseguiremos recuperar os volumes com preços tão mais altos do que em 2019?

As vendas de usados, por outro lado, seguem em crescimento, com 25% acima de 2020 e perspectivas de romper a barreira de 11 milhões de automóveis e comerciais leves transacionados no ano, um novo recorde. Atingiremos uma relação de 5,6 usados para cada novo, bastante acima dos 5:1 de anos anteriores. Aqui também, a recuperação da capacidade produtiva se refletirá em menor volume proporcional de usados. Por outro lado, o alto valor dos novos contribuirá reforçando o negócio de usados. Saberemos o resultado deste cabo de guerra em 2022.

A mensuração antecipada dos objetivos de eficiência energética do Rota 2030 é facultativa aos grupos econômicos habilitados e teve início em outubro de 2020. Por meio dela, os benefícios de 1 e 2 pp de IPI poderão ser aplicados de forma antecipada em 2022, se a mensuração foi comprovada até 01 de outubro de 2021. A comprovação normal de resultados acontece desde outubro de 2021, prosseguindo por 12 meses. Os grupos habilitados que não alcançarem as metas corporativas de eficiência energética deverão pagar uma multa. A “distância” que cada Grupo, montadora, modelo, versão estão das suas metas, bem como as potenciais penalidades para esses grupos econômicos, estão calculadas na plataforma inteligente Bright AutoDash. Vários modelos introduziram motores mais eficientes durante o ano para entrar com o pé-direito no período de avaliação. E alguns modelos foram descontinuados pela mesma justificativa, sem retorno para o eventual investimento.

Continuando com regulamentação, em janeiro de 2022, entram as regras do PROCONVE L7, aplicáveis para os veículos produzidos a partir daí. Pelas regras existentes, nenhum veículo pode deixar as linhas de produção ou ser nacionalizado em 2022 se não estiver de acordo com o PROCONVE L7. Todas as marcas trabalharam para ter produtos homologados a partir de janeiro e para zerar os estoques de veículos L6 deslocando o período de férias coletivas. Na rede de concessionários, existe um prazo de 90 dias para comercialização dos veículos L6.

Para terminar a questão de regulamentação, ainda não existe uma decisão governamental de estender os benefícios para a importação de veículos eletrificados com imposto entre zero e 4% comparados aos 35% na importação sem benefício. Essa legislação permitiu que uma parcela de veículos importados, com soluções mais sustentáveis de motorização, ajudassem na composição de 1,7% dos emplacamentos de eletrificados no Brasil.

A agenda de discussões para descarbonização de nossa frota tem avançado e se intensificado com atividades como RenovaBio, Combustível do Futuro e outras iniciativas importantes. A associação das montadoras abriu o leque mostrando que as soluções serão múltiplas e setorizadas no Brasil. Argumentos fortes para uma solução local exclusiva são o alto custo das baterias que limitam as aplicações BEV no Brasil e mensuração de gases estufa no ciclo poço-à-roda que faz brilhar os veículos com combustíveis renováveis. Se o preço das baterias já era um problema, o aumento das commodities fez o preço do minério de lítio disparar.

A segurança veicular tem evoluído com projetos sempre melhores e superiores aos requisitos mínimos da legislação. A exigência de novos equipamentos, como o controle eletrônico de estabilidade, combinada com as exigências de eficiência energética e menores emissões são os fatores principais para fazer com que veículos com longa história por aqui não apareçam mais no Competitive Technology Cycle Plan da Bright Consulting.

O impacto de todas essas mudanças se fez sentir na segmentação do mercado, com supremacia absoluta dos SUVs. De 22% que tinham em 2019, passaram a inacreditáveis 34% neste ano, maior segmento do mercado. Os SUVs suportam melhor a adição de inflação e requisitos legais. O segmento de picapes também cresceu roubando clientes de SUVs com as picapes monobloco e cabine dupla. Entre os hatches, permanece o interesse apenas para os subcompactos.

Quanto às rotas tecnológicas para veículos sustentáveis, os veículos eletrificados têm representado 1,7% das vendas, com 90% deles híbridos ou híbridos plug-in na proporção de 6:4. Dois modelos híbridos flex fabricados localmente representam 50% de todo o volume de eletrificados. Mais volume virá de maior disponibilidade.

Passamos por fatos expressivos neste ano que mudaram a forma como a indústria trabalha – todos interessados mais na rentabilidade do que no volume para preservar o negócio. No campo das inovações, o encerramento de 2021 abre as perspectivas de grandes debates sobre rotas tecnológicas para o Brasil e discussão das competências do país nesse mercado de grandes evoluções.

A Bright Consulting vem atuando no monitoramento da evolução tecnológica dos veículos e tem ativamente participado dos debates tanto no setor privado quanto junto ao governo pela evolução para a mobilidade sustentável no país – foco ambiental sem esquecer dos parâmetros social e econômico.

Que venha 2022!

Office: + 55 19 3397.0175

contato@brightisd.com

Condomínio Centre Ville I
Rua Place Des Vosges, 88, BL. 2,
UN 114, CEP 13105-825
Campinas - SP, Brazil

Todos os direitos reservados à Bright Consulting

Desenvolvido por: