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Publicado em 02/09/2020

Riscos para a recuperação sustentável do mercado de veículos leves em 2020

As vendas do mercado automobilístico progridem e poderemos ter números próximo aos de 2019 nos meses finais deste ano. É um resultado possível, porém não garantido em função de alguns riscos, conforme acontecido em agosto. O que pode influenciar essa recuperação?

As vendas de veículos leves em agosto alcançaram 173 mil unidades, ritmo diário 16% acima de julho, porém ainda 25% abaixo do mesmo mês em 2019, limitado por disponibilidade dos produtos mais comprados nesta pós-pandemia, veículos com o conteúdo exato que cabe no bolso, nada mais. Verifica-se o retorno gradual de vendas a locadoras, em sua maioria localizadas em Minas Gerais, explicando a recuperação das vendas no estado: fecharam em 19%, crescendo na direção dos 22% de 2019. Com o retorno dessas vendas, o segmento de hatches compactos retoma a liderança folgada, apesar do novo patamar de SUVs em 29% da indústria – eram 23% em 2019.

A produção das montadoras vai retornando gradativamente em direção aos níveis anteriores à crise, impactada tanto pela rotina de proteção contra o vírus dentro das fábricas, quanto pela demanda ainda menor que em 2019. Prova contundente do ritmo mais brando são as negociações abertas entre as várias montadoras e seus sindicatos, visando a redução da força de trabalho e renegociação de contratos. As vendas atuais ocorrem em mix diferente daquele consumido antes da pandemia. Pela falta de disponibilidade, somem muitas ofertas dos portais eletrônicos ao mesmo tempo em que se elevam os preços pelo aumento do câmbio e das comodities em moeda estrangeira. Ou seja, o estoque desbalanceado e a produção lenta penalizaram as vendas entre 5 – 10 % em agosto.

Outro impacto importante é a aceleração momentânea na demanda para os veículos PcD, destinados a pessoas com deficiência, conforme antecipado em maio pela Bright Consulting. Como a elegibilidade para esse benefício será restringida a pessoas com dificuldades de locomoção e doenças graves a partir de 2021, os postulantes correm hoje atrás das unidades existentes. Mas esse canal de vendas também tem seus limites – com o preço sugerido limitado a R$ 70 mil, a oferta se restringiu pelo avanço do dólar, que torna proibitiva a sua produção. Continuam produzindo unidades PcD as empresas que dependem desse volume para alavancar produtividade de sua linha de produção ou simplesmente para conseguir maior market share, conforme feito pela VW com seu produto T-Cross nos últimos 2 meses.

As locadoras anunciam um backlog de 60 mil unidades que deixaram de ser compradas durante a pandemia, tanto pela paralização de produção das montadoras quanto pela redução na demanda com a queda abrupta no turismo, devolução de veículos de aplicativos de transporte e contração no preço do usado, fundamental nesse modelo de negócios. Quase metade das vendas de agosto são vendas diretas, locadoras e PcD incluídos, proporção bastante próxima à que tínhamos antes da pandemia. As compras represadas podem representar um tremendo empurrão na indústria, se acontecerem.

Finalmente, o mercado de usados também tem reagido de forma favorável, com movimento apenas 17% abaixo de julho 2019, redução bem menor do que na venda de novos de 25% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Todos os concessionários têm acolhido os usados como forma de intensificar seus negócios enquanto as vendas de novos continuam restritas. Para o consumidor, ficam oportunidades e desafios: valorizar bem o seu usado, conseguir o conteúdo certo no novo e pagar um valor que cabe em seu bolso. Essa é a tônica até o final de 2020.

Cassio Pagliarini
Bright Consulting

 

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