Publicado em 19/05/2022

TODOS OS SEGMENTOS AUTOMOTIVOS ATINGEM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA RECORDE

A mudança de mix – principalmente de hatches para SUVs – esconde os ganhos

Por Murilo Briganti | Chief Product Officer

Jamais o mercado brasileiro evoluiu tanto em tão pouco tempo, com grandes avanços na tecnologia embarcada, níveis de emissões, segurança e, principalmente, melhor eficiência energética, foco principal deste artigo. E não foram tempos fáceis, pois a pandemia, as crises logísticas, a falta de semicondutores e, agora, uma guerra têm se revelado barreiras severas ao desenvolvimento do setor automotivo.

Fonte: Bright Consulting

Olhando primeiramente para os 4 principais segmentos do país – hatches, sedans, SUVs e picapes médias – verificamos que quase sempre detiveram em torno de 90% do mercado. Todos estes segmentos atingiram nível recorde em termos de eficiência energética no mês de março. Os hatchbacks tiveram um avanço de 9,4% no período todo, sedans 13,7%, SUVs 15,0% e as picapes 10,2%. Com tamanha evolução por segmento, seria sagaz dizer que o mercado também evoluiu com tamanha velocidade, mas não foi o que ocorreu e o gráfico da esquerda retrata o porquê.

Hoje, as SUVs dominam as vendas. Em 7 anos, sua participação mais do que dobrou! O mesmo ocorreu com as picapes médias, principalmente, por conta das compactas Toro e Oroch. As peruas estão praticamente extintas e os sedans, que representavam ¼ do mercado, foram retirados do portfólio por muitas marcas. Os hatchbacks – outrora reis com mais da metade do mercado – hoje são apenas 23%.

A forte mudança de mix nas vendas dos hatchs e sedans, que detém maior eficiência energética, para veículos com menor eficiência mascarou os dados para toda frota e os avanços foram alcançados por meio de melhorias pontuais dentro de cada categoria.

Fonte: Bright Consulting

Em geral, resultados em análises de emissões e consumo são fortemente influenciados pelo volume de vendas, pelas tecnologias utilizadas e pela carroceria do veículo em questão – maior massa, maior área de sombra e mais potência tendem a gerar maior emissão e consumo.

Desde 2015, a combinação de inovações tecnológicas e as mudanças mercadológicas já mencionadas resultaram em um aumento de massa em 12%. Mesmo com veículos mais pesados, com sombra 7% maior e 13% mais potentes, a eficiência energética melhorou 4%.

Fonte: Bright Consulting

Fonte: Bright Consulting

As inovações na indústria automobilística levaram a uma ampla gama de tecnologias disponíveis aos fabricantes para alcançar as metas de emissões de CO2, economia de combustível e desempenho estrutural. A figura acima ilustra a adoção de diversas tecnologias por cada fabricante no ano de 2022, com círculos maiores representando taxas de adoção mais altas.

Todas as tecnologias listadas acima têm um grande impacto no consumo de combustível dos veículos. É possível notar que, entre as 25 montadoras listadas, há uma grande variação na adoção das tecnologias e que muitas delas tem estratégias mais exclusivas de acordo com seu footprint tecnológico global e camada de mercado.

O comando variável de válvulas, tecnologia demonstrada com maior penetração no mercado, permite priorizar desempenho ou economia. Já a tecnologia turbo com injeção direta proporciona um design e operação mais eficiente do motor. Transmissões não-manuais já são maioria no mercado desde 2019, com a transmissão CVT tendo maior predominância nas asiáticas e DCT nas alemãs. A tecnologia Stop/Start disseminou-se no país após o programa Inovar-Auto. Já as tecnologias de eletrificação, apesar de incipientes, têm começado a ganhar mercado por aqui e, de alguma forma, fazer parte do portfólio de praticamente todas as montadoras.

Em resumo, temos vivenciado grandes progressos, com os veículos atendendo melhor aos desejos de seus proprietários e entregando as metas regulatórias. O impacto dessas evoluções é o custo maior, porém tantos foram os motivos para elevação dos preços e custos, que a evolução tecnológica pode ter sido o fator menor quando comparado com crises pandêmica, logística, de commodities e de suprimentos. O futuro chegou para os nossos veículos movidos por motores a combustão e agora devemos nos voltar aos destinos da nossa mobilidade sustentável.