Veículos híbridos estão liberados do rodízio em São Paulo mesmo com geração de CO2 maior do que um veículo mais econômico
Na década de 1950, nos Estados Unidos, foram diagnosticadas as primeiras doenças relacionadas aos poluentes automotivos. A circulação dos automóveis teve êxito extraordinário na mobilidade, mas as doenças silenciosas decorrentes dos níveis de poluentes na atmosfera começaram a proliferar.
Os níveis de poluentes sem controle jogados constantemente na atmosfera pelos escapamentos, associados ao trânsito nos grandes centros pelo mundo, iniciou o movimento para a discussão do papel do automóvel nas cidades na década de 1980.
Sem coincidências, o DIA MUNDIAL SEM CARRO e o rodízio de veículos como restrição se iniciaram no mesmo período. O rodízio de veículos na cidade de São Paulo foi uma solução extremamente rápida e prática para reduzir a circulação de automóveis no final da década de 1990.
A criação do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores – Proconve, em 1986, passou a colher os primeiros frutos com os controles de poluentes. Até no retorno do Fusca à produção, o veículo vinha equipado uma única saída de escape provido de catalisador para atender a primeira fase dessa legislação.
Os automóveis carburados reinavam e a injeção de combustível começou a aparecer no mercado como a maior evolução tecnológica de todos os tempos. Aos poucos, de forma rudimentar e analógica no início, veio a eliminar de vez os carburadores.
No âmbito combustível, também no começo da década de 1990, o Brasil eliminou o composto chumbo-tetraetila misturado à gasolina, ação que salvou muitas vidas ameaçadas pela contaminação pelo aditivo. O Proálcool, a partir de 1975, teve início forte, depois alguns percalços no abastecimento, quase beirando à extinção, e se reinventou com o veículo Flex em 2003. Acrescentou um potencial enorme aos veículos híbridos abastecidos com etanol, para menor geração de CO2. Na gasolina, a adição de etanol anidro, a partir de 1998 com 24% na composição, resultou em uma queda abrupta na emissão de poluentes, principalmente o monóxido de carbono.
Diante de todos estes avanços tecnológicos voltadas à eficiência energética e no uso do biocombustível, o rodízio de veículos na cidade de São Paulo permanece por décadas em seu formato original. Sendo considerado a princípio uma medida ambiental, a redução de circulação de veículos em um dia específico da semana para cada final de placa também traz vantagens adicionais de circulação e segurança.
A avalanche de veículos híbridos, liberados do rodízio de veículos na cidade de São Paulo, chama a atenção por serem tratados como uma variação única, sem quantificação individual de sua eficiência energética, perdendo pontos no princípio ambiental, como um falso sustentável da mobilidade urbana.
O rodízio de veículos acaba se tornando uma restrição desatualizada diante dos avanços da tecnologia por meio do sensoriamento remoto, no qual na cidade de Londres se desponta com o programa TRUE, por exemplo. A restrição do centro expandido é tomada por meio da tecnologia embarcada em cada veículo, fiscalizada in loco e não por um mero final de placa no rodízio.
Os carburadores se foram, mas o rodízio de veículos se perpetua de forma equivocada e fora de contexto da fiscalização tecnológica atual. DIA MUNDIAL SEM CARRO? Pelo menos em nosso país, este conceito se fragiliza a cada ano pela falta de controle da circulação e de políticas públicas voltadas ao transporte público.
Luiz Vicente Figueira de Mello Fº
Consultor de inspeção veicular Bright Consulting