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Publicado em 04/04/2022

A GRANDE EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

As sucessivas ondas de regulação, nem sempre evidentes ao consumidor, tornaram o automóvel brasileiro mais seguro e eficiente. O futuro próximo trará avanços ainda melhores.

Por Cassio Pagliarini | Chief Strategy Officer

Os progressos experimentados pela indústria automotiva foram enormes nos últimos 10 anos, com grande parte dessa evolução ditada pelas regras implementadas pelo Inovar-AUTO e Rota 2030. Porém, o caminho para a evolução dos veículos brasileiros começou bem antes, com as legislações de emissões e de segurança, implementadas a partir da década de 1990.

No quesito de emissões, as normas do PROCONVE conduziram à utilização de injeção de combustível, catalisadores, diagnose embarcada e um melhor controle na quantidade de poluentes emitidos, fazendo com que nossos veículos se aproximassem gradualmente dos níveis de emissões utilizados na Europa e Estados Unidos. A tabela abaixo, com informações CONAMA e PROCONVE, reflete essa evolução.

Os efeitos dessas ações se traduziram numa menor presença de poluentes no ar respirado nas grandes cidades. Mesmo com um AUMENTO da frota circulante da ordem de 67% entre os anos de 2006 e 2019, os poluentes atmosféricos se REDUZIRAM em 55% para CO, 31% para Óxidos de Nitrogênio e impressionantes 81% para Dióxido de Enxofre, esta última em função da introdução do diesel S-10 a partir de 2012.

Evoluções similares aconteceram com a segurança tanto passiva quanto ativa, por meio da instalação de novos equipamentos, como freios ABS e AIR BAGS, obrigatórios a partir de 2014 (itens obrigatórios na Europa desde 1998 e nos EUA desde 1995). Estas mudanças provocaram um aperfeiçoamento dos veículos, mas causaram a descontinuação de plataformas mais antigas, que não comportavam os novos equipamentos.

A Bright Consulting e seus consultores têm participado ativamente no debate regulatório, contribuindo e suportando o governo na elaboração das legislações de EE e segurança. É visão da empresa de que não existe legislação perfeita, mas sim a legislação possível em busca de mobilidade sustentável, que depende dos ambientes econômico e político e que é realidade em todos os países.

A legislação do Inovar-AUTO, publicada em 2012, surgiu com os objetivos de apoiar o desenvolvimento tecnológico, a inovação, a segurança, a proteção ao meio ambiente, a eficiência energética e a qualidade dos veículos e autopeças. Incentivou o investimento local em pesquisa e desenvolvimento com benefícios tributários, assim como trouxe diversas novas tecnologias para aprimorar a economia de operação. Mas, também se equivocou ao buscar o adensamento da capacidade produtiva instalada no Brasil via incentivos de localização que se mostraram imperfeitos e foram questionados pela OMC. De qualquer forma, o resultado líquido foi amplamente positivo ao país, como se pode ver pela tabela abaixo: 

A adição de conteúdo tecnológico para permitir tamanha evolução nos 5 anos do programa e melhorar a eficiência dos veículos em quase 16% foi muito grande como mostra o quadro de participação de tecnologias entre 2012 e 2017:

O Programa Rota 2030 veio dar continuidade ao INOVAR AUTO por meio de mais uma significativa evolução regulatória, com o objetivo de tornar os automóveis brasileiros mais modernos, com metas de eficiência energética e de ampliação do foco em segurança veicular e tecnologias assistivas. A verificação da primeira fase do programa se iniciou em out/21 e se encerra em set/22. Várias empresas se habilitaram à qualificação antecipada já em 2021 e passarão a contar com a utilização dos benefícios com um ano de antecedência, conforme a lista abaixo. Novos períodos de verificações estão programados para 2027 e 2032.

Em função do Rota 2030, novamente o progresso em inovações tecnológicas foi notável, sendo que muitas delas passaram a equipar a maior parte dos veículos produzidos. Adicionalmente via CONTRAN, itens como o controle eletrônico de estabilidade passarão a ser equipamento mandatório em novos produtos a partir de 2023 e em todos os veículos em 2024. A presença crescente desses equipamentos torna o ato de dirigir menos cansativo e muito mais seguro.

A busca pela mobilidade sustentável com várias configurações tecnológicas veio acrescentar uma complexidade maior à regulação, pois possibilita soluções diversas para cada contexto e realidade. Devem ser apoiadas pelo escalonamento desde o carro a combustão até o puramente elétrico, passando pelas alternativas híbridas. Apoiados em motores elétricos, que conseguem entregar torque às rodas de uma forma mais eficiente, esses motores também recuperam a energia em frenagens, desacelerações e descidas, energia essa armazenada em baterias. Ainda falta uniformizar a carga fiscal entre as várias alternativas na próxima fase do Rota 2030 com previsão para estabelecimento de novas metas até final de 2022 para os próximos ciclos, pois, enquanto as novas soluções sustentáveis são taxadas segundo sua eficiência energética e equipamentos instalados, os veículos a combustão ainda têm impostos comandados pela cilindrada, independente de sua destinação ou faixa de preço.

Por outro lado, o tratamento fiscal do ROTA 2030 favoreceu eletrificados importados, com a redução do Imposto de Importação inclusive para ZERO para BEV’s. Essa medida tornou a localização desses veículos questionável e precisa ser revista – incentivos podem ser aplicados, sim, mas não com uma alíquota ZERO por exemplo para o Imposto de Importação para BEV’s, que, ao invés de fomentar a localização destes veículos, torna cada vez mais difícil justificar o investimento local quando o importado chega sem custo extra.

A nova fase do Rota 2030, com verificação prevista para 2027, deverá elevar a régua com avaliação dos veículos no critério poço-à-roda (WTW – well to wheel), no qual a geração de gases estufa é avaliada a partir da PRODUÇÃO da energia utilizada para movimentar o veículo. A mensuração dentro desse novo critério – que será a primeira no mundo – levará o segmento de veículos leves de passeio a emissões de CO2e abaixo das da Europa já em 2025, inclusive atingindo mais do que os 37% de redução de emissões de GHG em relação a 2005, que é a meta geral do país na COP 26.

Por fim, em 2025, começa uma nova fase do PROCONVE com processos de medição aprimorados e limites cada vez menores para poluentes. A evolução chegará em ondas sucessivas, ditadas pela regulação. Como nem tudo é perfeito, essas normas de medição de requisitos críticos (MIR) devem ser bem planejadas para resultarem independentes da rota tecnológica sendo utilizada – em outras palavras, não devem ameaçar nenhuma solução disponível para o Brasil, principalmente a existência e continuidade dos motores flex e dos biocombustíveis.

Quais os veículos e equipamentos são previstos pela Bright Consulting para esse futuro? Novamente, o quadro abaixo apresenta a previsão da Bright Consulting para a evolução do conteúdo tecnológico dos veículos para tecnologias selecionadas fundamentais para a evolução de eficiência energética e segurança.

A presença de eletrificados deverá aumentar, passando dos atuais 1,8% das vendas em 2021 para 12,1% em 2027, quando 1 em cada 8 serão movidos exclusivamente a bateria e os outros 7 serão híbridos, a maioria deles rodando em etanol. O motor turbo estará presente em 63% das vendas, enquanto as transmissões manuais estarão restritas a menos de 20% dos veículos, principalmente aplicações comerciais. A direção assistida eletricamente estará em mais de 90% das vendas, com o volume restante tendo direção hidráulica – a direção mecânica será objeto de museu, assim como os veículos sem ar-condicionado.

Apenas 5% dos veículos deixarão a linha de montagem sem um sistema multimídia, com a maioria deles voltando a possuir navegação embarcada, possível com as redes de conexão com os veículos. Cada vez mais equipamentos de auxílio à direção (ADAS) estarão instalados, oriundos dos esforços da indústria para veículos autônomos.

Não existe dúvida na capacidade dos fabricantes em desenvolver equipamentos mais modernos e mais eficazes que permitirão ao transporte por veículos maior segurança, mais economia, menores emissões, com grande conforto e facilidade de uso. O verdadeiro desafio está em abdicar das fontes fósseis de combustível que, por muito tempo ainda, serão a energia mais barata entre as ofertas disponíveis. Existe uma conta salgada nessa transição, seja para veículos elétricos a bateria ou movidos a hidrogênio ou ainda combustível sintéticos desenvolvidos a partir de fontes sustentáveis.

O mundo tem ficado mais limpo! Bom para todos, mas o remédio não pode matar o paciente. A forma como essa “conta” será paga permanece uma grande incógnita, principalmente para países em desenvolvimento como o Brasil.

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