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A nova ordem do setor automotivo pós Covid-19

Publicado em 20/10/2020

Como a nova mentalidade imposta pela pandemia reformula a mobilidade

Os impactos da Covid-19 na Mobilidade

A indústria automotiva passava pelo período de maior transformação em seus mais de cem anos de história quando fomos inesperadamente atingidos pela pandemia da Covid-19.

Para deter e controlar a propagação do vírus, mais da metade da população mundial foi submetida a medidas de contenção. As cadeias de abastecimento globais foram abaladas e interrompidas, e a economia despencou – de acordo com as estimativas do FMI, o PIB mundial encolherá 3,2% em 2020, com uma queda de 5,8% esperada para o Brasil.

Diante de uma enorme perturbação jamais vista e cujas consequências ainda não são totalmente identificadas, só há uma certeza: o futuro é incerto!

Devido aos massivos bloqueios e cerceamento da locomoção, não é surpreendente que o setor de mobilidade seja um dos mais afetados por esta crise. No entanto, as nuvens negras que pairam sobre este setor não se limitam à redução drástica nos quilômetros percorridos pelos automóveis. As previsões do início de 2020 para o segmento automotivo apontavam para a continuidade da recuperação do mercado brasileiro, com vendas ao redor de 2,9 milhões de unidades, crescendo para os 3,9 milhões por volta de 2025.

Aí, o mundo ruiu e o grande desafio para o setor tem sido como administrar os impactos de caixa que a pandemia causou e que só podem ser equalizados no longo prazo, principalmente o excesso de contingente, até que o mercado retorne aos patamares de 2019.

As vendas internas têm mostrado, nos últimos 3 meses, uma recuperação animadora e, em setembro, o volume se concretizou em 199 mil unidades, ou 11% abaixo do mesmo mês de 2019. Confirmadas nossas previsões, o 3º trimestre de 2020 ficará 25% abaixo do mesmo período de 2019, fechando o ano próximo das 2 milhões de unidades, queda muito abaixo das previsões catastróficas de 40% de redução.  Se conseguirmos atingir este volume e pelas melhores previsões econômicas do momento, poderemos ter um 2021 melhor e mais estável do que os 2,35 milhões previstos atualmente.

As locadoras de veículos nesse contexto

O setor de aluguel de carros depende em grande parte dos aeroportos para obter lucros nos Estados Unidos e em toda a Europa. Com isso, como as viagens aéreas diminuíram 96% por conta da Covid-19, os grupos de locação viram as receitas evaporar. A Hertz, locadora global com receita de 9,8 bilhões de dólares em 2019, acaba de pedir a falência de suas subsidiárias nos Estados Unidos e Canadá, algo impensável há apenas alguns meses.

No Brasil, apesar de não dependerem tão fortemente do setor aéreo, as locadoras viram o seu fluxo em queda quando os serviços de mobilidade tiveram demanda próxima de zero junto com a diminuição nas vendas de usados. Com os efeitos do coronavírus, aumentou o número de carros parados no pátio à espera de um comprador e os veículos alugados tiveram redução de até 80%. A queda se deve, justamente, à baixa procura por parte de motoristas que usam carros alugados para trabalhar e devido à incerteza econômica.

As três maiores locadoras de veículos do país têm resultados melhores com a revenda de seminovos do que com a locação de veículos. A receita dessas vendas varia em torno de 60% do faturamento bruto dessas empresas, segundo balanços de 2019.

O setor é o principal cliente da venda direta, na qual empresas em geral e outros públicos (PCD e táxis) podem comprar carros diretamente das montadoras, com benefícios fiscais como alíquotas mais baixas de ICMS e IPI. As locadoras também se beneficiam de descontos que conseguem das montadoras devido às compras em grandes quantidades. Como colocam seus carros à venda no setor de usados a preço de mercado, conseguem obter margens maiores.

Veículos particulares e demandas dos consumidores

Sem uma vacina conhecida ou tratamento para a Covid-19, o carro particular está voltando ao centro do palco. De acordo com dados do governo do Estado de São Paulo, o número de passageiros no transporte público coletivo caiu cerca de 70%. Ainda, a pesquisa PoderData mostra que 68% dos brasileiros consideram “muito arriscado” usar transporte público durante a pandemia. Na direção oposta, a utilização do carro particular passou de 30% para 60%.

Embora os hábitos de compra dos consumidores tenham mudado drasticamente nos últimos anos, graças ao progresso do e-commerce, o setor automotivo, por se tratar de um bem de maior valor agregado, não esteve na vanguarda dessas mudanças. Os bloqueios e o medo da contaminação “romperam” essa tendência e trouxeram à tona mentalidades mais conservadoras, tanto para clientes quanto para varejistas.

Os fabricantes se concentraram mais no digital, por exemplo, desenvolvendo plataformas de vendas diretas para clientes finais. As concessionárias também adotaram uma estratégia digital, passando a ser omnichannel.

Outra tendência que terá algum crescimento é o DIY (Do it Yourself). Embora produtos cada vez mais complexos não permitam que todos nós consertemos nossos carros em casa, ainda assistiremos a um aumento significativo na demanda por e-commerce de peças.

De fato, houve uma queda muito forte na demanda do aftermarket no início da pandemia. Em primeiro lugar, com os clientes em casa, os veículos rodaram menos e desabaram as necessidades de consertos e trocas de peças. Com o orçamento apertado, a prioridade ficou com o sustento e manutenção das famílias, pouco sobrando para o “possante” parado na garagem. Houve também uma momentânea falta de peças pelo colapso das conexões logísticas, principalmente para componentes de origem chinesa. Porém, essa crise durou pouco tempo e, já em maio, não havia falta de pneus e componentes de reposição e voltaram as ofertas de serviços. Com o lockdown das grandes cidades, depois de algum tempo trancados em casa, alguns proprietários resolveram dar um trato em seus automóveis e a venda de acessórios e produtos de conservação até aumentou.

A indústria automotiva passou por muitas crises no passado e sempre soube como sair por cima. Pega de surpresa em meio à revolução ACES (veículos autônomos, conectados, elétricos e compartilhados), a tempestade perfeita se formou com a chegada desta pandemia. No entanto, é sabido que quanto maior o desafio, maior o incentivo para evoluir – os mais receptivos à mudança saberão navegar pelas oportunidades.

Murilo Briganti
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