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Publicado em 15/03/2021

Como pode faltar carro com preços tão altos?

A momentânea escassez de componentes subverte as regras
de oferta e demanda – até quando? 

Os aumentos implementados para os veículos novos nos últimos doze meses foram 8 a 10 pontos percentuais superiores à inflação do período, dependendo do automóvel. Em qualquer setor adequadamente abastecido e estável, um aumento similar causaria uma dramática queda de volumes: 30%, se usada a elasticidade 3:1.

Porém, não é isso que se observa e o motivo está exatamente nas palavras “abastecido” e “estável”. Com um solavanco excepcional nas vendas de abril, maio e junho de 2020, a indústria prosseguiu uma recuperação que até surpreendeu alguns analistas, embora a Bright já apostasse nos 2 milhões desde maio de 2020. Na última Newsletter, explicamos que esta recuperação aconteceu porque outras despesas concorrentes com o veículo novo estiveram em baixa: viagens e cursos.

Os aumentos de preços vieram como efeito de uma série de elevações na cadeia de insumos e componentes das montadoras, conforme bem explicado na coletiva da ANFAVEA em 05 de março. Absolutamente todos os insumos aumentaram bem mais do que a inflação.

Além disso, mesmo pagando muito mais, as montadoras continuam sem todos os componentes necessários à construção dos veículos e o vilão da vez passou a ser o microcircuito eletrônico, presença mandatória em qualquer automóvel.

Com a pandemia, aumentou consideravelmente o trabalho remoto e o apoio direto de tecnologias digitais. Com isso, cresceu muito a demanda por notebooks, tablets e smartphones e a indústria de componentes tomou a direção para atendê-los. Acontece que a indústria automobilística vem recuperando o seu ritmo em todo o mundo, principalmente pela necessidade de transporte particular por conta do isolamento social, em adição aos motivos brasileiros.

Uma vez consumidos os estoques logísticos de microchips, as entregas começaram a falhar. Muitos fornecedores deram início a programas de emergência para substituir componentes similares, mas a escassez é tamanha que obriga fábricas a ajustar seu mix de produção ou até a suspendê-la. Medidas dessa natureza já foram anunciadas pela Chevrolet e Honda, enquanto outras montadoras permanecem apreensivas e disparam planos de emergência para compra e frete aéreo de componentes eletrônicos.

Os fabricantes desses componentes, chineses em sua maioria, trabalham em sua capacidade máxima e deverão solucionar a oferta em até 90 dias, pouco mais, pouco menos, em função dos roteiros logísticos de cada produto. O estoque de veículos mantém-se em 18 dias, mesmo número de janeiro, equivalente a aproximadamente 100 mil veículos, de acordo com a ANFAVEA. É um estoque baixo, porém desigual e algumas marcas e modelos poderão se beneficiar de sua disponibilidade neste momento. Faltam carros, mas não faltam todas as marcas e modelos.

Em sentido contrário a esse próximo tsunami de componentes, vem um novo lockdown no Brasil. A nova variante do vírus e o aumento de casos e mortes pela COVID-19 forçaram vários governos estaduais e municipais a decretar 14 dias de paralização de atividades e fechamento do comércio não essencial. Concessionárias de veículos estão entre as atividades impedidas de operar vendas e showroom, embora continuem com pós-venda em funcionamento.

Tudo isso significa que a demanda cairá no momento em que faltam alguns produtos e que a produção poderá voltar à normalização. Porém, os altos preços permanecerão após a crise de suprimento. Isso traz o segundo conceito necessário à lei da oferta e procura: estabilidade. Preços altos, estoques disponíveis, renda e emprego em baixa, tudo para restabelecer a lógica de oferta e demanda. Vemos tempestade nesse horizonte, embora nosso número para 2021 continua em 2,45 milhões de veículos.

Cassio Pagliarini
Bright Consulting

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