AUTOMOTIVERESTART

A nova ordem do setor automotivo pós Covid-19

Publicado em 24/09/2020

Desenvolvimento socioeconômico sustentável

A Era da Bioeconomia 

A bioeconomia e o desenvolvimento sustentável não se resumem apenas à redução de gases de efeito estufa ou ao uso de matéria-prima renovável. Significam também a garantia de crescimento econômico e desenvolvimento social desacoplados dos impactos ao meio ambiente.

A humanidade deve ser capaz de gerar riquezas e promover o bem-estar social de acordo com a biocapacidade do planeta, ou seja, com a capacidade dos ecossistemas de produzir recursos e absorver resíduos e lixos. Hoje, a população mundial é de quase 8 bilhões de pessoas e utiliza-se mais de 1,6 vez a capacidade da Terra em produzir recursos (Overshoot Day). Isso significa que, atualmente, observa-se um sistema econômico linear, não sustentável, no qual entradas e saídas estão totalmente desbalanceadas.

Existe estreita correlação entre a pegada ecológica – indicador que estima a demanda humana de recursos do ambiente – e o desenvolvimento econômico de diferentes países. Geralmente, países e regiões desenvolvidas, que têm alto valor de Produto Interno Bruto (PIB) e alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), apresentam também alta pegada ecológica.

O Brasil possui alta biocapacidade em comparação à média mundial (8,7 hectares/pessoa vs. 1,6 hectare/pessoa), sendo um dos maiores credores em recursos naturais renováveis do planeta. Esse fato nos coloca em posição de destaque para o desenvolvimento de uma bioeconomia (Figura 1). No entanto, apesar da pegada ecológica brasileira ter se mantido relativamente estável nos últimos anos (2,8 hectares/pessoa) e o IDH e PIB aumentado (Figura 1), a biocapacidade do país vem caindo, o que sugere investimentos a fim de estabelecer uma economia circular que permita a reciclagem de recursos, tais como o carbono, a conservação dos ecossistemas e o desenvolvimento socioeconômico. Neste cenário, o investimento em bioenergia e biocombustíveis, ou seja, na produção de energia que utilize um carbono renovável, tem um papel promissor.

Muitos são os benefícios socioeconômicos trazidos pelos biocombustíveis e pela bioenergia, dentre eles o desenvolvimento rural, a segurança energética, a criação de novos postos de trabalho e a inclusão de pessoas com baixa escolaridade no mercado. Porém, não é um consenso, pois, apesar dos benefícios, muito se questiona sobre os riscos da segurança alimentar, do uso da terra e dos impactos sobre fontes hídricas. Tais riscos podem ser mitigados e transformados em grandes oportunidades de negócios, se forem estabelecidos processos de produção que sigam princípios e boas práticas de sustentabilidade.

De acordo com o novo roadmap para transformação energética (Global Renewables Outlook: Energy transformation 2050), publicado pela Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), o investimento em energias renováveis e a transição para a bioeconomia deve impactar de forma relevante o número de empregos gerados, o PIB mundial e o bem-estar social. Mundialmente, é estimada a criação de cerca de 42 milhões novos empregos até 2050. Sendo que, para a América Latina, o número esperado é de 3,2 milhões, seguido por um incremento de 2,4% no PIB e um aumento de 14,8% no bem-estar social, lastreado em aspectos sociais, ambientais e econômicos. Com maior número de empregos e aumento do PIB per capita, é esperado maior consumo e investimento em questões pessoais. A redução na emissão de gases do efeito estufa e do uso de recursos fósseis acarreta melhores condições ambientais, com redução da poluição e da depleção de recursos fósseis. Além disso, indiretamente, com a geração de riqueza, espera-se maiores investimentos em educação.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis e o país com maior número de pessoas trabalhando neste setor, isto é, 40% dos empregos mundiais no setor de biocombustíveis estão no Brasil.  Hoje, temos no país 832 mil pessoas trabalhando no setor de biocombustíveis (Renewable Energy and Jobs, 2019, IRENA), contra 521 mil no de combustíveis fósseis (IBP), sendo o segmento sucroenergético um dos principais responsáveis pela oferta de empregos – cerca de 300  mil trabalhadores (Souza, 2015).

Muitos estudos mostram os efeitos positivos da indústria de cana-de-açúcar e etanol no Brasil. Desde a implementação do Proálcool, diversos investimentos nacionais e internacionais foram atraídos para este setor, proporcionando o desenvolvimento de novas tecnologias, profissionalização e adoção de práticas de gerenciamento que tornaram as atividades mais sustentáveis no âmbito social e ambiental, como resultado de uma demanda do consumidor. Com base no crescimento da indústria sucroenergética do estado de Mato Grosso do Sul, é possível estimar, de modo geral, que, após três anos da instalação de uma usina de produção de etanol, um município típico tem aumento de 30% em seu PIB, a população cresce cerca de 10%, os empregos aumentam 40% e as receitas tributárias 31% (Assunção, 2016). Dados também mostram que no estado de São Paulo, todos os municípios com culturas de cana-de-açúcar apresentam maiores valores de IDH e expectativa de vida e menores taxas de analfabetismo, pobreza e mortalidade infantil (Machado, 2015). 

Estes números nos permitem dizer que já temos no Brasil algo sólido e um modelo a ser seguido para a transição energética e para o estabelecimento de uma economia verde e sustentável. No entanto, políticas públicas, como o RenovaBio, e investimentos em novas usinas e tecnologias são mandatórios para que o setor de energias renováveis continue crescendo, sempre considerando os três pilares da sustentabilidade – social, econômico e ambiental. Dessa forma, conseguiremos promover a descarbonização da atmosfera e sustentar um crescimento socioeconômico desacoplado dos impactos ambientais, preservando a biocapacidade do planeta.

Maria Carolina Grassi

Referências Bibliográficas

  1. Overshoot Day – https://www.overshootday.org/
  2. Global Footprint Network – National Footprint Accounts, 2019 http://data.footprintnetwork.org
  3. Global Renewables Outlook: Energy transformation 2050 – International Renewable Energy Agency (IRENA) – https://bit.ly/363efxz
  4. Renewable Energy and Jobs, 2019 – International Renewable Energy Agency (IRENA) – https://bit.ly/36590h0  
  5. Empregos no setor de petróleo e gás natural – Instituto Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) – https://bit.ly/3kL1hsq
  6. Souza, GS; Victoria, RL; Joly, CA; Verdade, LM. 2015. Bioenergy and Sustainability: Bridging the gaps – SCOPE 72 – São Paulo, Brasil.
  7. Assunção, J; Pietracci, Breno; Souza, P. 2016. Fueling Development: sugarcane expansion impacts in Brazil. Climate Policy Initiative – https://bit.ly/3mMIA9G
  8. Machado, PG; Picoli, MCA; Torres, LJ; Oliveira, JG; Walter, A. 2015. The use of socioeconomic indicators to assess the impacts of sugarcane production in Brazil. Renewable and Sustainable Energy Reviews, 52: 1519-1526.

Office: + 55 19 3397.0175

contato@brightisd.com

Condomínio Centre Ville I
Rua Place Des Vosges, 88, BL. 2,
UN 114, CEP 13105-825
Campinas - SP, Brazil

Todos os direitos reservados à Bright Consulting

Desenvolvido por: