Publicado em 25/10/2023

ELETRIFICAÇÃO E A DINÂMICA DAS IMPORTAÇÕES NO SETOR AUTOMOBILÍSTICO

O impacto do benefício fiscal na importação de veículos eletrificados

Por André Ganselli

Historicamente relevante na indústria automobilística, a importação tem ganhado destaque recentemente devido à crescente eletrificação e à entrada de marcas chinesas no mercado. A combinação desses dois fatores desencadeou uma discussão significativa sobre a possível necessidade de retornar os impostos de importação para veículos eletrificados de forma a proteger a localização desses produtos. Nesse contexto, este artigo explora a relação entre as importações e a eletrificação no Brasil, destacando como essa transformação influencia as decisões das montadoras.

Para conduzir este estudo, a plataforma AutoDash da Bright Consulting forneceu os dados de origem dos produtos para o ano completo de 2022 até agosto de 2023, com a ressalva de considerar veículos provenientes de países do Mercosul e México como se domésticos fossem, uma vez que não são impactados pelo imposto de importação em virtude dos acordos bilaterais. A tabela abaixo compara esses dois períodos

Podemos extrair muitas conclusões dessa tabela. Em primeiro lugar, a eletrificação dos veículos está em notável crescimento. Nos primeiros 8 meses de 2023, 3,65% dos veículos são eletrificados, em comparação com 2,52% no ano completo de 2022. Esse aumento na eletrificação de certa forma também impulsionou o crescimento das importações, que subiram de 2,28% em 2022 para 3,13% até agosto deste ano e deverá continuar a aumentar nas atuais condições tributárias.

O impacto desse crescimento se torna mais evidente quando analisamos a composição das importações: cerca de 55% dos veículos importados eram eletrificados em 2022, hoje, ultrapassam os 70%. A substituição de veículos a combustão por veículos eletrificados tem grande parte da explicação na redução no imposto de importação de 35% para zero no caso dos veículos BEV.

O corolário dessas duas tendências é que houve um aumento na participação de veículos importados nas vendas totais de veículos eletrificados, passando de 50% em 2022 para 61% este ano. Em outras palavras, o benefício do imposto de importação contribuiu para que aumentasse a venda dos veículos eletrificados no país, mas também fez com que a presença dos importados fosse também maior.

Ao analisarmos a composição das importações e eletrificação por montadora, fica evidente a mudança em direção à eletrificação.

A entrada das Chinesas no mercado tem sido um grande motor para essa mudança: tanto BYD quanto GWM importam veículos eletrificados e têm ganhado mercado. Em 2022, 42% do mercado total de eletrificados pertencia a Toyota, hoje este número foi para 27%, e BYD e GWM já correspondem, respectivamente a 7,5% e 9,5%, volumes beneficiados pelo imposto de importação reduzido.

Caoa Anápolis aumentou a participação de eletrificados em seu portifólio: em 2022 era de 20% e, neste ano, saltou para 49%. A consequência direta é uma redução da participação de veículos da marca produzidos no Brasil, 93% em 2022, caindo para 82% em 2023. Outra montadora que aumentou seu portifólio de eletrificados foi a Land Rover: hoje, 73% dos veículos emplacados pela marca são eletrificados, contra 38% em 2022. Ao mesmo tempo, houve uma redução da produção local de 55% ano passado, para 35% este ano.

AUDI, BMW e Mercedes já deram o “start” em direção a eletrificação no país, a primeira um pouco mais acelerada que as outras duas, com 46% de seu portifólio destinado a veículos com propulsão alternativa, enquanto BMW e Mercedes mantiveram-se na casa dos 20%.

Outras montadoras, ainda não iniciaram um movimento expressivo nessa direção, FIAT, GM e Volkswagem trazem um volume ínfimo de produtos eletrificados, não correspondendo nem a 0,1% de seus portifólios. Citroen concentrou esforços em utilitários e 0,37% das vendas são veículos eletrificados, enquanto na Peugeot o portifólio é maior e possui 0,5% de participação nas suas vendas.

Após analisar os dados do mercado e das montadoras individualmente, pode-se perceber que, os benefícios concedidos à importação de veículos eletrificados têm dado oportunidade para montadoras explorarem esse mercado, alinhando suas estratégias globais com um ganho de receita. Não à toa, vemos, cada vez mais, montadoras do setor premium trazendo veículos eletrificados, como exemplo a Volvo, que globalmente ainda produz veículos à combustão, mas tem uma linha de produtos altamente eletrificada no Brasil, comercializando somente PHEVs e BEVs.