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Publicado em 25/04/2021

O Futuro da regulação de Eficiência Energética no Brasil

O que deve orientar o Programa Rota 2030 pós 2022

A definição dos objetivos de eficiência energética após 2022 figura hoje entre as principais prioridades dos planejadores de montadoras e fornecedores Tier 1 no Brasil. As bases do programa começam a ser debatidas, mas sua definição depende da adequada avaliação dos impactos técnicos, ambientais, sociais e econômicos, que ainda não estão explícitos. Por que estes aspectos serão fundamentais e qual a influência na construção da regulação futura?

Em primeiro lugar, parece clara a intenção de diminuir a pegada de gases de efeito estufa (GHG – green house gas) para atender aos compromissos do Acordo de Paris e beneficiar o país como um todo. Este movimento alinhará o Brasil com os importantes mercados – EUA, Europa e China –, objetivo que pode ser alcançado pela incorporação de rotas tecnológicas sustentáveis, como veículos eletrificados, combinado com a evolução dos motores a combustão pela introdução de maior complexidade e tecnologia.

Tecnologia significa custo incremental e começamos a análise por fatores econômicos. Considerando a multa aplicada aos veículos emissores ou o simples impedimento de comercialização, existe espaço para determinados custos em evolução tecnológica. Inovações como turbo, variação de fase do comando de válvulas, injeção direta, stop-start, transmissões mais eficientes, gestão de ar-condicionado e energia elétrica, direção assistida eletricamente, entre outros equipamentos, vêm trazendo maior frugalidade aos veículos, a ponto de o consumo ter diminuído, mesmo com aumento de peso e maior área frontal dos SUVs e picapes.

Embora estes equipamentos tragam evoluções menores que os motores eletrificados, eles custam menos para fabricar e permitem que os motores a combustão continuem a nos trazer benefícios. Na outra ponta da equação, estão os veículos puramente elétricos a bateria, campeões na eficiência energética e geração de GHG no conceito tanque-à-roda, mas que pecam pelo seu custo e pelo critério berço-ao-túmulo. Até que ponto compensa pagar por essa solução? É justo esse pagamento? Quais as aplicações adequadas para um veículo puramente elétrico a baterias?

Quando se avalia o portfólio de veículos eletrificados existente, verifica-se que apenas consumidores de alta e altíssima renda têm acesso a eles. Para os primeiros, os poucos veículos abaixo de 200 mil reais são híbridos e alguns destes aceitam o etanol como combustível. Para os veículos Premium, todos importados, o custo incremental é compensado pela troca de um Imposto de Importação pleno de 35% por impostos bem menores – mas os veículos continuam caríssimos. O gráfico abaixo compara volumes e preços médios das várias categorias. O diâmetro da bolha significa volume.

Para serem efetivas, as novas rotas tecnológicas precisariam alcançar compradores com menor poder aquisitivo a fim de se obter volumes representativos. Com os altos custos envolvidos nessas soluções, as duas alternativas seriam: 1) incentivos de vendas conforme executado nos EUA e alguns países da Europa; ou 2) através de isenção fiscal, compensando a arrecadação em outros veículos. É justo este segundo conceito? A Bright Consulting acredita que não, pois os veículos mais baratos acabariam pagando mais impostos para recuperar as perdas de arrecadação dos veículos com maior eficiência energética. Para minimizar esse impacto, os modelos sustentáveis de menor custo poderiam ser favorecidos, o que significa que mild-hybrids e hybrids teriam tratamento preferencial. Estas soluções poderiam ser incorporadas em SUVs compactos, xodó dos brasileiros.

Quando se coloca na balança que já existem vantagens no imposto de importação para mobilidade elétrica, abre-se a porta para a produção local ser substituída pela externa nesses nichos. São nichos hoje, devido às ofertas com alto preço, mas deverão aumentar com o tempo e as novas regras deverão também observar o interesse nacional em manter a produção local. A continuidade das regras atuais significa que exportaremos empregos em breve. Este é mais um atributo a entrar na equação: qual a importância dada pela administração pública atual para a geração local de empregos na indústria automobilística?

O Brasil desenvolveu, ao longo dos anos, uma solução competente em biocombustíveis. Tudo começou por causa do preço do petróleo na década de 80, porém, esta solução combina muito bem com veículos eco-friendly pela captura de CO2, competindo de igual para igual com veículos a baterias. Também aproveita a infraestrutura de produção e distribuição do combustível, que é aplicável em veículos híbridos de qualquer tamanho. A Toyota já demonstrou, com sucesso, a aplicabilidade para veículos do segmento de médios, bastando agora a escala e desenvolvimento para veículos menores e mais baratos. Preservar a matriz de biocombustível também faz parte da equação para o Rota 2030.

O que mais deve ser considerado? A Bright Consulting recomenda que se busquem desenvolvimentos tecnológicos junto às universidades e aos centros de desenvolvimento. Seriam criadas metas específicas para as novas rotas tecnológicas a partir dos híbridos flex. No longo prazo, esse movimento pode tomar a forma de reformadores de hidrogênio a partir do etanol, alimentando as células de combustível. Seria uma transição viável para os veículos híbridos. A produção de combustíveis a partir de fontes limpas ou renováveis é outra alternativa a ser desenvolvida por aqui, dada a nossa abundância de sol e vento. Combustíveis sintetizados a partir dessa energia limpa funcionariam muito bem para transporte pesado de longa distância, navios e aviões. Desenvolvimento de tecnologia também entra na equação.

Isso significa que outros formatos ficam excluídos? De forma alguma! A distribuição urbana por vans ou caminhões leves já se mostrou viável por meio de baterias e deve prosseguir nesse caminho – está comprometida por um bom tempo a produção de caminhões elétricos urbanos, por exemplo, para entrega de bebidas. O transporte público de passageiros também pode apresentar diversas formas de eletrificação, seja por gerador próprio, por baterias ou pelo fornecimento de energia através de suspensórios em vias eletrificadas. Como são objetos de compras governamentais e menos sujeitos à lei de oferta e procura, a solução se encontra mais próxima. A única certeza é de que a seleção de soluções será multimodal.

Mais variáveis podem compor as premissas para o desenvolvimento das novas metas 2027 e 2032 do Rota 2030. Por exemplo, ao invés de avaliar ciclos do tanque à roda, o ciclo completo berço-ao-túmulo poderá ser empregado, afetando os eventos de manufatura e o descarte dos produtos. Esta abordagem permitirá comparar melhor todas as rotas tecnológicas, inclusive biocombustível e gerações limpas, ou não, de energia elétrica. Antes, porém, o país precisa decidir aonde deseja chegar para que se identifiquem os caminhos a serem percorridos. Precisamos decidir se ficam os anéis ou os dedos.

Cassio Pagliarini
Bright Consulting

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