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Publicado em 11/01/2024

O QUE ACONTECEU EM 2023 E O QUE SE ESPERA PARA 2024

Muitas mudanças ocorreram no ano que passou e essas evoluções deverão ganhar corpo em 2024 com as novas legislações do MOVER, do imposto de importação e da reforma fiscal

Por Cassio Pagliarini 

A notícia mais relevante do fechamento de 2023 nos informa que os veículos eletrificados alcançaram 6,7% das vendas em dezembro, com 15.792 unidades. É um crescimento fenomenal, visto que, no primeiro mês do ano, a presença de veículos eletrificados representava 3,4% das vendas. Esse crescimento se deve principalmente às vendas do BYD Dolphin que contribuiu para que os veículos BEV puramente elétricos liderassem o grupo de eletrificados pela primeira vez. Porém, é impossível negar o efeito do aumento do imposto de importação em janeiro de 2024, atingindo todos os eletrificados, o que fez muitos clientes anteciparem as suas compras. A proporção de eletrificados no mercado brasileiro só tende a aumentar nos próximos anos, alcançando 60% dos emplacamentos de 2030, segundo a projeção da Bright Consulting.

Com 235.806 emplacamentos, dezembro foi um mês bastante forte, 16% acima do mesmo mês em 2022. O emplacamento diário de 11.790 veículos em dezembro é ainda mais surpreendente, 28% superior a dezembro de 2022. O volume fechado do ano teve 2,17 milhões, 11% superior aos 1,95 milhão de 2022.

No mix de segmentos, os SUVs, com 36%, ganharam mais um ponto percentual, enquanto os sedans perderam 2 pontos, indo a 11% das vendas. Hatchbacks permaneceram estáveis com 31%, muito em função do programa de incentivos de junho-julho. As picapes ganharam o outro ponto perdido pelos sedans e agora contabilizam 18% dos emplacamentos. 48% dos veículos vendidos em 2023 têm motor turbo, contra 44% em 2022 e 35% em 2021. Piloto automático adaptativo está em 21% dos veículos.

Será que esse crescimento seguirá em 2024? A previsão da Bright Consulting confirma que o crescimento vai continuar, com 2,37 milhões de unidades. O comportamento desse número vai depender do controle sobre a inflação, do resultado para o déficit público e das taxas de juros para financiamento de veículos. Um movimento favorável desses três ingredientes poderá gerar um volume melhor, embora abaixo do volume pré-pandemia, quando 2,66 milhões de unidades foram comercializadas.

Qual foi o destino para os 2,17 milhões de veículos comercializados em 2023? As vendas diretas consumiram 46,8% desse volume em 2023, abaixo dos 47,9% obtidos em 2022. As razões para esse comportamento foram: 1) o benefício oferecido pelo governo por meio da redução de impostos em junho e julho, que teve como prioridade os compradores pessoa física e 2) a diminuição do ritmo de renovação de frota implementado pelas locadoras, com 40% em 2022 e 35% em 2023, valores calculados sobre a frota de fechamento do ano.

Zerado em 2015, o imposto de importação volta para veículos eletrificados em 2024, com 3 anos de aceleração até os 35% que são normalmente aplicados a veículos a combustão. Já os veículos comerciais elétricos terão o imposto elevado a 35% já em julho de 2024. O objetivo desta taxação é avançar e fomentar a produção local. Enquanto os veículos eletrificados premium possuem alguma flexibilidade de posicionamento, é fundamental que os eletrificados de preço mais acessíveis (já disponíveis e aqueles ainda a serem anunciados) sejam montados no Brasil para que seus preços permaneçam competitivos. Para permitir que o avanço para uma mobilidade mais sustentável não sofra interrupções e para suavizar o impacto inicial do aumento, foram oferecidas cotas livre de impostos para todas as categorias, alcançando principalmente as marcas que foram ativas nesse mercado em 2023. Um artigo bastante completo da Bright Consulting será publicado na próxima semana com mais detalhes desta grande alteração.

A outra mudança de legislação foi anunciada ao apagar das luzes de 2023: a segunda fase do Rota 2030, chamado agora de MOVER (Mobilidade Verde e Inovação). A MP 1205 de 30 de dezembro traz novidades em relação aos programas INOVAR AUTO e ROTA 2030 que o precederam:

    • promoção de combustíveis de baixo teor de carbono, formas alternativas de propulsão e valorização da matriz energética brasileira
    • maior atenção com todos os aspectos de mobilidade e logística
    • expansão da participação da indústria automotiva local nas cadeias globais de valor
    • promoção de sistemas produtivos mais eficientes, para neutralidade de emissões de carbono.

Além dos objetivos de eficiência energética, rotulagem veicular, desempenho estrutural e equipamentos de assistência à condução, os requisitos obrigatórios passam a considerar imediatamente a emissão de CO2 no ciclo poço à roda, critérios de reciclabilidade e, para 2027, a pegada de carbono no ciclo berço ao túmulo. A substituição do critério cilindrada pela potência dos motores na definição do IPI, por sua vez, trará interpretação mais correta à aplicação desses motores que, no caso de propulsores 1.0 turbo, tinham mínima taxação e eram usados em produtos nada populares. Mais uma vez essa alteração será explicada em detalhes por outro artigo da Bright Consulting na próxima semana.

A mudança derradeira foi a reforma fiscal que, segundo a PEC 45/2019 promulgada em 20 de dezembro, trará impostos cobrados pelo conceito de valor agregado. Hoje o IPI tem vários patamares de cobrança entre os veículos para beneficiar este ou aquele conceito: cilindrada, eficiência energética, massa do veículo, aplicação, combustível… Como o IPI será aglutinado com o PIS e Cofins dentro da CBS (Contribuição de Bens e Serviços) com valor único, será necessário aguardar pela lei complementar para verificar qual o mecanismo de contabilização e como os parâmetros acima serão aplicados. Porém a implementação começa em 2 anos com um longo prazo para a vigência plena – muitas águas vão rolar por debaixo da ponte até que tenhamos seus efeitos.

Todas as expectativas são positivas para 2024 e espera-se um avanço ainda maior das montadoras chinesas, ocupando espaço entre os veículos eletrificados e preparando a produção local – o Brasil é um mercado amplo com baixa presença chinesa e baixo mix de eletrificados, fatores que justificam a grande atenção deles para o nosso mercado. Também se aguarda o início da instalação de motorizações híbridas leves (mild hybrid) em veículos de grande volume, o que vai garantir boa evolução da eficiência energética, mesmo antes da divulgação dos objetivos do programa MOVER. Perdem as empresas sem habilidade para renovação de seus portfólios ou inovação rumo a mobilidade sustentável.

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