Crescimento das vendas de veículos chineses no brasil: oportunidade ou desafio?

Estratégia Automotiva, Mercado, vendas e preços, Mobilidade Sustentável

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Com a elevação das barreiras financeiras nos EUA e Europa, o Brasil se tornou destino frequente das exportações chinesas de automóveis

Nos últimos anos, o mercado brasileiro tem vivenciado um aumento expressivo na importação de veículos chineses, principalmente eletrificados, majoritariamente elétricos. À medida que a China busca expandir sua presença global e otimizar sua capacidade produtiva (40% de ociosidade), o Brasil tem se tornado um destino chave para suas exportações. Importante lembrar que, tanto EUA quanto a UE têm adotado políticas protecionistas, impondo tarifas e medidas mais rigorosas, sob alegações de práticas desleais de comércio e subsídios governamentais excessivos que comprometem as montadoras tradicionais locais em detrimento das chinesas. No entanto, esse crescimento acelerado traz algumas questões sobre o equilíbrio entre oferta e demanda e o impacto já é evidente nos estoques.

Para ser ter uma ideia, em 2017, a importação de veículos híbridos oriundos da China era inexistente, mas, no período de janeiro a agosto de 2024, o volume de veículos importados do país já ultrapassou 8 mil unidades.

No caso dos híbridos Plug-in, o crescimento foi ainda mais forte. As importações saltaram de 0 para quase 45 mil unidades nos 8 primeiros meses de 2024. E os veículos elétricos puros seguem a mesma tendência. Em 2017, foram importadas da China 25 unidades e o número saltou para 68,5 mil unidades no mesmo período destacado acima. Isso escancara o impacto da China como potência global no segmento automotivo, principalmente pela alta competividade em preço, tecnologia e qualidade de seus produtos.

Mas, se a importação de eletrificados chineses (120K) corresponde a mais de 70% da importação total de eletrificados (166,5K), há mercado para todo esse volume?

Embora o volume crescente de importações represente um avanço significativo na diversificação dos sistemas de propulsão na frota do Brasil, surge um novo desafio – o acúmulo de estoque. Compilando dados da CAMEX com o volume de emplacamentos, o estoque total de veículos eletrificados chineses já se aproxima de 100 mil unidades no período de janeiro a agosto de 2024. Em números arredondados, o estoque se distribui da seguinte forma:

Tabela 1 - Murilo

A análise acima nos permite identificar um possível descompasso entre o volume de veículos que entraram no país e a capacidade do mercado em absorvê-los, seja pela desaceleração da demanda, seja por estratégias comerciais que precisam ser reajustadas. Indo além, o volume de elétricos que devem ser comercializados no ano todo de 2024 é o mesmo volume que há em estoque, ou seja, se mantido este volume de vendas, há estoque de elétricos para 1 ano. Fato que gera desafios expressivos tanto para as montadoras quanto para as concessionárias que são oneradas pelos custos logísticos e forçados a reduzirem suas margens em prol de desovar este volume.

O que forçou o desembarque de tantos veículos? Certamente, foi uma resposta à elevação gradativa do imposto de importação, zero para BEV e abaixo de 4% para HEV e PHEV até dezembro de 2023, em um cenário no qual os veículos a combustão pagam 35%. O menor imposto aplicado no primeiro semestre de 2024 e quotas para importação sem imposto levaram as montadoras chinesas a antecipar as remessas para tirar partido de uma carga fiscal menor, compensando os custos de estoque – ação talvez com algum excesso.

As projeções da Bright Consulting já apontam um futuro claro para 2030: menos de 30% dos veículos comercializados serão puramente a combustão, 40% Híbridos Leves, 12% Híbridos, 8% Híbridos Plug-in e 12% Puramente Elétricos. Portanto, uma coisa é certa: o futuro é inexoravelmente elétrico, mas deverá haver uma transição pelas fases da eletrificação em prol da sustentabilidade econômica, ambiental e social. O Brasil já caminha rumo a eletrificação e é um dos poucos países que se permitiu ampliar o leque de rotas – que ao olhar pelas novas orientações globais, nos torna, também, um dos poucos que foram assertivos nesse sentido.

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