O volume global de vendas retornou aos patamares anteriores à pandemia, porém com condições muito diferentes pelas barreiras fiscais impostas pelos EUA
O setor automotivo voltou ao centro da agenda geopolítica mundial com medidas protecionistas como a tarifa de 25% imposta pelos EUA sobre veículos e autopeças, numa tentativa de conter seu déficit comercial total em 2024 de US$1,2 trilhões, com México, Japão e Coréia do Sul contribuindo com os volumes apresentados na figura a seguir, além de preservar sua base industrial diante do elevado avanço tecnológico das montadoras de origem chinesa:
Adicionalmente, cabe registrar que o mercado mundial de veículos de passageiros retornou em 2024 com 67 milhões de veículos anuais ao patamar existente antes da pandemia, ressaltando-se o crescimento vertiginoso nesse período do número de fabricantes de origem chinesa, que combinam tecnologia avançada, forte internacionalização e preços sem a prática de “dumping”, pois se situam até 150% superiores aos praticados no mercado de origem, para pressionarem os concorrentes internacionais a reverem estruturas organizacionais, custos, motorização, tecnologias embarcadas e estratégias produtivas.
As baterias tornaram-se também um dos eixos de diferenciais competitivos nesse setor, exigindo domínio sobre insumos estratégicos como lítio, cobalto e terras raras, área em que a China lidera globalmente e força os Estados Unidos a buscar alternativas viáveis de redução de sua dependência, de modo a garantir sua sustentabilidade futura.
A nova eficiência produtiva exige robotização, inteligência artificial, elevada escala e integração vertical em itens estratégicos, com foco absoluto na redução de custos com geração de caixa, inovação e aumento da competitividade contínuas, tornando a automação uma condição básica para atuar no mercado.
A crise de semicondutores pós-pandemia evidenciou a fragilidade das cadeias globais e impulsionou uma corrida por soberania tecnológica, com os EUA liderando em desenvolvimento de chips de alta performance e a China acelerando o setor através da criação de inúmeras startups com apoio governamental.
O investimento em inovação em itens como software, conectividade e plataformas integradas passaram a representar ativos decisivos na nova engenharia veicular.
A resposta dos fabricantes tradicionais do setor automotivo, sendo alguns centenários, às pressões tecnológicas e competitivas das empresas chinesas ocorre em forma de fusões, aquisições, reestruturações operacionais e parcerias estratégicas, que serão determinantes para o redesenho do mapa industrial automotivo global nos próximos anos.
A indústria vive sua maior transformação em décadas, com a sobrevivência do Novo Setor Automotivo altamente dependente de lideranças digitais, inovações com criação de valor, inteligência financeira e evolução tecnológica contínua na busca incessante de aumento de Competitividade com foco na implementação de estratégias que garantam sustentabilidade a longo prazo.
Antônio Jorge Martins
Coordenador acadêmico da FGV em gestão automotiva
Autor Convidado Bright Consulting
A Bright Consulting é uma consultoria automotiva especializada com sede em Campinas (SP), criada em 2014, e tem como missão oferecer um portfólio de serviços de inteligência competitiva orientado para minimizar os riscos relacionados ao processo decisório de seus clientes. Conta com especialistas reconhecidos nos mercados nacional e internacional, que avaliam as grandes transformações do mercado e da indústria, os impactos da evolução tecnológica nos veículos e contribuem na elaboração de projeções mais assertivas de sustentação às decisões das empresas.