A catástrofe natural do estado gaúcho atinge a indústria automobilística nacional
de várias formas e magnitudes
Por Cassio Pagliarini
Estamos todos consternados com o cataclisma em progresso no Rio Grande do Sul. A concentração de chuvas ocorrida em abril e maio de 2024 afetou de forma dramática 332 municípios, causando o desalojamento de 90 mil pessoas e mais de 150 mortes. 300 mil imóveis foram invadidos pelas chuvas e 800 instalações de saúde foram desabilitadas. Em um dia, 14 municípios receberam chuva superior à média do mês, com alguns destes superando 500 mm em 10 dias. É o maior desastre natural ocorrido em terras brasileiras comprometendo todos os municípios de baixa altitude.
A indústria automobilística é afetada de diversas formas com redução das vendas locais de veículos, pela diminuição na produção devido a danos nas fábricas localizadas nas áreas atingidas, restrições logísticas que impedem a distribuição dos produtos, danos aos veículos novos e usados estocados nas fábricas e concessionárias e danos aos veículos atingidos pela inundação, além do grande impacto nas empresas seguradoras.
Comercialização prejudicada
Comecemos pela redução na comercialização tanto pela impossibilidade de operação das concessionárias alagadas quanto pela perda de poder aquisitivo da população atingida. O RS é responsável pela distribuição de 5% das vendas nacionais ou 10 mil veículos por mês em números redondos. O emplacamento caiu a ZERO a partir do dia 07 de maio, provavelmente por danos no processamento de dados do estado, afinal nem todas as cidades sofreram inundações. Ponderando as cidades alagadas, estimamos que aproximadamente 60% das vendas deixarão de acontecer nos próximos 30 dias e 30% nos dois meses subsequentes. São 12 mil veículos que deixarão de ser comercializados!
Fábricas impactadas direta e indiretamente
Existem fábricas de veículos e de autopeças no RS. Enquanto a grande planta GM de Gravataí não aponta danos pela enchente, as condições logísticas para recebimento de material e para despacho de produtos encontram-se precárias. Fábricas localizadas próximo a Porto Alegre e nas bacias inundadas terão quebra de produção e necessidades diversas de recomposição de maquinário. Todas deverão experimentar falta de energia elétrica em determinados momentos. Pelo menos 30 dias deverão transcorrer para que as estradas voltem a ficar transitáveis e 60 dias para permitir a reconstrução das fábricas de componentes atingidas. Muitos dos fornecedores de freios e implementos rodoviários para caminhões e ônibus estão localizados no RS.
Estimando os impactos
Consideramos 50% da produção mensal da fábrica GM e 50% de perda de produção nacional de caminhões e ônibus, até por considerar fontes alternativas de componentes quando existentes. São 15 mil automóveis GM e 6 mil caminhões e ônibus de todas as marcas. Para veículos novos estocados nas concessionárias, provavelmente teremos 3 mil inutilizados pela inundação. Segundo o Sindipeças, a frota circulante no RS engloba 2,8 milhões de unidades – é razoável considerar que 5 a 10% desses veículos estejam inutilizados. Serão necessários pelo menos 20 meses de vendas para repor os veículos perdidos! Uma parcela dessas vendas, estimada em 30%, deve estar coberta por seguros para mitigar as perdas e ajudar na recuperação, se seus proprietários não tiverem que usar esses mesmos recursos para custear despesas mais urgentes, como a reconstrução das casas e cidades. Estarão as empresas de seguro preparadas para compor essa indenização? O resumo das perdas – não aditivas – está mostrado abaixo:
Prioridades para reestruturação
A indústria automobilística entrará na fila de necessidades que começam por salvar vidas e continuam na reconstrução dos serviços básicos – água potável, energia elétrica, hospitais, escolas, rodovias, pontes, supermercados. A produção de alimentos deve ser reiniciada logo que possível, afinal o RS é fundamental no fornecimento de arroz e trigo consumido por aqui. O restabelecimento de negócios vai demorar e necessitará de todo apoio do restante do país.